segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A arrogância como ameaça

Deu no Estadão de ontem:


"O que leva um governante a ultrapassar limites e assumir atitudes arrogantes?


Tentemos uma explicação. Em princípio, tal condição se dá quando o mandatário atinge grau tão elevado de autossuficiência que se imagina superior aos pares. Essa carga psicológica geralmente toma corpo sob o empuxo de amplo apoio popular. Embalado pelos aplausos da massa, o figurante torna-se impermeável à crítica e refratário a qualquer ponto de vista que possa borrar o diáfano manto da imagem pública. Impregna-se de uma dualidade humano-divina, de acordo com a ótica descrita pelo sociólogo francês Edgar Morin em sua obra. Para ele, celebridades que frequentam o Olimpo da cultura de massas - artistas de cinema, cantores, mandatários, reis, rainhas, etc. - têm um parentesco com as divindades. Vivem cercados de áulicos. Deles se podem esperar frases como esta, pronunciada, em tempos idos, pelo onipotente Aristóteles Onassis, ex-marido de Jacqueline Kennedy: "Somente Deus e eu somos capazes de fazer algo a partir do nada."

Baixemos, agora, no nosso terreiro tupiniquim em pleno verão de 2009. Eis à nossa frente Lula, o Filho do Brasil, com uma história que será vista por milhões de brasileiros nos próximos meses. O território será inundado por cascatas de lágrimas. Com a maior popularidade dos ciclos presidenciais, comparando-se aos idolatrados Kubitschek e Vargas, Luiz Inácio, de tão convencido de que habita o Olimpo, já não se impõe limites. Dá lições aqui, puxa a orelha de outro acolá. Diz a um estupefato George W. Bush: "O problema é o seguinte, meu filho, nós ficamos 26 anos sem crescer, agora você vai atrapalhar? Resolve tua crise." Inebriado pela fama, sugere ser uma extensão de Cristo quando compara o Bolsa-Família ao milagre da multiplicação dos pães. Mais uma lição: "Se os americanos quiserem, podemos mandar tecnologia para eles salvarem os bancos." Se o Brasil enfrentou com galhardia os dissabores da crise, pode ditar ao mundo seu modelo de capitalismo. Claro, com o braço mais forte do Estado na condução da economia. E que ninguém nos venha dar lições.

Dessa forma, a arrogância desenrola o seu véu sobre o vasto domínio estatal. A ameaça apontada pela The Economist dirige-se também à ministra Dilma Rousseff, temida pelas atitudes enérgicas na cobrança aos auxiliares. Aliás, esse é o seu calcanhar de aquiles. O que salta à vista na administração federal é certa autossuficiência. Só o governo está certo. Com sua fala direta e sem medidas, Lula parece infalível. Mesmo que a peroração não resista à lógica. O amanhã vira hoje. Não por acaso, os bilhões de barris de óleo do pré-sal são puxados do futuro para irrigar, já, os cofres da União, de Estados e municípios. A farra da arrogância faz seu carnaval fora de época. O ufanismo do Brasil-potência chega a lembrar refrãos cantados no passado. A banda toca de maneira ininterrupta Lula Lá. Mas, e a infraestrutura? Onde estão os portos reequipados? Há estrutura para recepção dos grandes navios que descobrem o Brasil como potência turística? E os investimentos estratégicos para garantir o desenvolvimento autossustentável? São enrolados no tapete da linguagem tatibitate. Na outra ponta, os gastos do governo sobem às alturas. As estruturas tornam-se paquidérmicas. Enquanto isso, três áreas básicas continuam à espera de programas estruturantes: saúde, educação e segurança. Só para lembrar: o Brasil gasta três vezes mais que a China com saúde, mas tem indicadores mais baixos. Gastos com educação chegam a 5% do PIB, mas os estudantes brasileiros exibem os piores desempenhos na lista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E a segurança pública continua um caos.

Essa é a rápida leitura sobre a dúvida expressa pela mídia internacional. Pode-se falar de novo "milagre econômico"? Ou apenas de um grande avanço? Sob o signo da arrogância, emerge um pedaço de um passado de triste memória, coberto pela faixa "Brasil, ame ou deixe-o"."

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Lula pisoteia nobres ideais, mas quem vai ligar?

De José Nêummane, ontem:

"No Brasil há um poder que manda, a vontade do presidente, e três subordinados: o Executivo, que a executa; o Legislativo, que lhe obedece; e o Judiciário, que a autoriza."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O gol contra de Lula

Editorial d'O Estado de São Paulo de hoje:

"O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que deixou ontem Brasília, é o mesmo que ali desembarcou 24 horas antes. Em nenhuma fala pública, em nenhum documento assinado, ele emitiu algum sinal, por tênue que fosse, que o seu anfitrião Lula da Silva poderia invocar como evidência do acerto de tê-lo convidado. O presidente brasileiro quer passar ao mundo a imagem de grande promotor do diálogo como instrumento insubstituível para a solução de conflitos locais, regionais ou globais. O Brasil, nessa perspectiva, já teria adquirido estatura, prestígio e respeito para se credenciar a esse papel ? e exercê-lo com êxito. Não está claro onde isso teria acontecido, salvo, quem sabe, no Haiti. Mas o ponto da megalômana diplomacia lulista, para justificar a acolhida a uma figura que disputa com Robert Mugabe, o eterno ditador do Zimbábue, o título de mais execrado governante do planeta, é que o País deve confraternizar com qualquer regime que faça praça de prestigiar o Brasil.




Faltou combinar com Ahmadinejad. Ele não concedeu nada. Ganhou, a custo zero, o reconhecimento que veio buscar. O melhor que fez foi não proferir uma enormidade que acentuasse a sua condição de pária perante o concerto das nações e que, pior do que isso para o Brasil, respingasse em Lula, sob os holofotes da imprensa estrangeira. O presidente brasileiro, em todo caso, tratou de se resguardar. A anos-luz do Lula que em junho reduziu a um mero "protesto de quem perdeu" as manifestações sem precedentes na República Islâmica contra a maciça fraude eleitoral que manteve Ahmadinejad no poder, desta vez ele disse que "a política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade". Diante do impassível chefe do governo que executou pelo menos 115 participantes das passeatas em Teerã, sem falar nas prisões e torturas em massa, Lula foi inequívoco.



"Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha", ressaltou, "com a mesma ênfase com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo" ? o Irã, como se sabe, banca o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza. Teria sido perfeito se lembrasse ao sonegador do Holocausto que o Brasil repudia também o desrespeito às verdades históricas. Mas defendeu a criação de um Estado palestino "ao lado de um Estado de Israel (que Ahmadinejad considera um "tumor") seguro e soberano". Tergiversou, porém, ao abordar o ponto nevrálgico do contencioso da comunidade internacional com o Irã ? o seu programa nuclear. Embora instasse o interlocutor a trabalhar com os países interessados em "encontrar uma solução justa e equilibrada para a questão", tropeçou no modo pelo qual justificou "o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear com fins pacíficos".



"É simples", alegou. "Aquilo que defendemos para nós defendemos para os outros." Brasil e Irã são signatários do Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas (TNP) e integram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que fiscaliza as atividades dos países-membros. A partir daí, a equivalência não se sustenta. O Brasil, ao contrário do Irã, nunca mentiu aos inspetores internacionais sobre as suas atividades no setor, nunca ocultou as suas instalações e centros de pesquisas nucleares ? e nunca foi alvo de sanções econômicas do Conselho de Segurança das Nações Unidas por transgredir repetidamente as normas internacionais nessa matéria. Decerto existem "bombistas" no País, mas o mundo não desconfia das intenções brasileiras. Já a credibilidade do Irã é nula ? e a contorcida versão apresentada por Ahmadinejad em Brasília para explicar a recusa da proposta que permitiria a Teerã enriquecer seu urânio no exterior apenas comprova que o Irã age de má-fé, para ganhar tempo e dificultar a adoção de novas punições.



Não há a menor razão para crer que isso mudará por causa das exortações do "bom amigo" Lula, que corre o risco de ver desmoralizada a sua pretensão de atuar como moderador entre o Irã e os países com os quais finge negociar. As fantasias triunfais do Planalto sobre a sua capacidade de influir nas grandes questões mundiais ? que incluem o desmedido projeto de intermediar o conflito israelense-palestino ? levaram o presidente a abrir os braços a Ahmadinejad. Mais do que uma iniciativa fútil, foi um revés autoinfligido. Como diria Lula, um gol contra."

domingo, 15 de novembro de 2009

Assassinando a estatística


De Sonia Racy (Caderno 2):


Saindo da cartola política

 
por diretodafonte


"Diferentemente do que muitos acreditam, pode-se fazer mágica com números concretos. E pelo jeito foi essa a opção de Guido Mantega ao alardear esta semana que o PIB do Brasil deve crescer entre 8% e 10% no terceiro trimestre de 2009, em termos anualizados. Para tanto, considera que o ritmo de expansão trimestral se manterá ao longo de um ano inteiro. “Um ritmo chinês.”
Intrigado, José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, fez exercício para calcular o PIB brasileira da mesma maneira que a China faz. O que aconteceu? Ele detectou que, no terceiro trimestre do ano, o Brasil teria crescido 0,3% na comparação com o mesmo trimestre de 2008. E o PIB chinês, 8,9%.
Em resumo, estamos loooonge do padrão asiático. Mantega fotografou o atual momento e o projetou para um ano.
Aí, é só felicidade."

PS meu:  Cada povo tem o governo que merece, ainda que muitos (eu incluído) não tenham compactuado com essa bandalha. Meus pais me ensinaram a não mentir, mas não me ensinaram a desconfiar dos nossos governantes, infelizmente.Vai daí que o falso passa por verdadeiro, malgrado o logro verbal, inacessível ao povo honesto e trabalhador, que vive na terra e não nas nuvens.

sábado, 14 de novembro de 2009

Toque de recolher

,Dora Kramer, sempre ela!


¨Na sua volta à cena, 40 horas depois do apagão da noite de terça-feira, que atingiu 18 Estados e afetou 60 milhões de pessoas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que "não se pode politizar uma coisa tão séria para o País". De fato, não se pode. Mas é exatamente isso que o governo vem fazendo. A politização do blecaute, para dissociar o presidente Lula e a sua candidata do acidente que ela considerou "muito desagradável", ficou evidente desde logo no desaparecimento da própria Dilma, para quem o Planalto vinha criando sem cessar oportunidades de exposição, tratando-a como uma espécie de "ministra de tudo" - até do Meio Ambiente, como convém aos novos tempos verdes. A politização ficou evidente também na decisão de culpar uma tempestade pelo ocorrido. E, por fim, na pressa com que o titular de Minas e Energia, Edison Lobão, secundado pela antecessora que o telecomanda, decretou que o caso estava encerrado.


O governo segue religiosamente a lei do teflon: nada que a opinião pública possa perceber como problemático ou perturbador deve aderir à imagem da irrepreensível gestora de um governo aprovado pela maioria esmagadora da população. Para o seu patrono, tudo o mais, incluindo o modo de reagir a imprevistos adversos, tem de se subordinar a esse mandamento. Eis por que Lula e Dilma esperaram por uma ocasião favorável - o lançamento de um plano de ação contra o desmatamento da Amazônia e a revelação de que o abate caiu este ano mais do que em qualquer outro período desde que vem sendo medido - para se manifestar em coro sobre o apagão e explicá-lo pelo imponderável. "A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva", resignou-se o presidente, depois de lembrar que "Freud dizia" que a humanidade não pode controlar tudo, as intempéries, por exemplo. "Se tem uma coisa que nós humanos não controlamos são as chuvas, raios e ventos", repetiu a ministra.

Pouco importa que subsistam dúvidas consistentes sobre a versão oficial para a causa do blecaute - raios, ventos e chuvas, na região de Itaberá, no Estado de São Paulo, teriam danificado simultaneamente três linhas separadas de transmissão da Hidrelétrica de Itaipu, desencadeando uma reação em cadeia que deixou às escuras boa parte do País. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o principal centro brasileiro de estudos atmosféricos, confirma que, na hora do apagão, uma tempestade com raios se abatia sobre a região de Itaberá. Ressalva, no entanto, que as descargas mais próximas das instalações elétricas caíram a pelo menos 10 quilômetros de distância. Não estivesse o Planalto ansioso para varrer o problema para debaixo do tapete - e prosseguir com a campanha eleitoral antecipada - promoveria a "investigação cabal" sobre o episódio, defendida pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Ainda na remota hipótese de que tudo tenha começado com uma tempestade - e não com uma falha humana ou de equipamento -, o que deixa perplexos os especialistas do setor foi a disseminação do problema. Eles se perguntam por que os efeitos da pane não ficaram confinados à área de origem. "É preciso saber o que aconteceu com os sistemas inteligentes que teriam de isolar um defeito e impedir que a falha de fornecimento se alastrasse", observa o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. A questão, em outras palavras, é a da vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro. Mas isso aparentemente não inquieta a ministra Dilma Rousseff. Para ela, a segurança da operação é de 95%. Não está claro se o número é força de expressão ou um índice preciso. De todo modo, argumentou, chegar a 100% de segurança obrigaria a população a "pagar uma conta de luz bastante mais gorda". Por isso, "não estamos livres de blecautes".

Obviamente, nenhum país ou região do mundo está. A frase, portanto, escamoteia o essencial: saber até que ponto - a ser verdadeira a teoria do raio adotada pelo governo - o vasto sistema elétrico nacional está efetivamente "sujeito a chuvas e trovoadas", como notou com propriedade a colunista Dora Kramer no Estado de ontem. Mas no vale-tudo eleitoral em que estão imersos, nem Lula nem a sua escolhida estão interessados em tratar publicamente de um tema delicado como o desempenho do governo em gerir o setor energético. "Ao presidente Lula não apetece resolver problemas, mas se livrar deles de qualquer maneira." ¨
 
(...)
 
¨A hidrelétrica de Itaipu está sob investigação da Agência Nacional de Energia Elétrica e do Operador Nacional do Sistema Elétrico, o Ministério Público Federal abriu processo administrativo para investigar as causas do blecaute, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais não avaliza a versão oficial, o Congresso criou uma comissão especial para acompanhar o caso, parlamentares governistas consideram os esclarecimentos insuficientes, peritos levantam várias outras possibilidades e o próprio ministro do Planejamento acha que ainda falta uma "explicação cabal".

Quer dizer, as dúvidas estão no ar e em volume considerável.

Com que autoridade, então, os ministros Dilma Rousseff e Edison Lobão vêm a público dois dias depois do monumental blecaute para comunicar que "o assunto está encerrado"? Muito provavelmente com a autoridade conferida pela ordem do presidente da República para que assim procedessem, enquanto ele continuava em cena pedindo a suspensão da polêmica até o fim das investigações.

Ocorre que, se Dilma e Lobão devem obediência funcional ao presidente, o mesmo não ocorre com o restante do País. Se o governo acha que pode avocar o poder de decidir quando é hora de parar de dar satisfações de seus atos, comete um engano e um incorre em ato de lesa-democracia.

Por infração ao preceito maior do regime, segundo o qual o poder é exercido em nome do povo, cujos representantes têm a obrigação de lhe prestar contas.¨
 
PS meu: Sem cortes ficaria ótimo, mas não posso atirar, ao leitor, a íntegra da artigo que só uma Dora Kramer, com o seu poder de síntese, coloca em um terço de página. Uma radiografia da república do ¨quaserrei¨, em/com todas as letras de(s)compostas. O essencial foi dito, o resto, muito sério, entra em detalhes quase escabrosos, quase boquipasmos onde a lei de Malboro impera, abunda e prejudica (a nação).

A teoria do raio e a lei do teflon

Deu no Estadão de hoje:


¨Na sua volta à cena, 40 horas depois do apagão da noite de terça-feira, que atingiu 18 Estados e afetou 60 milhões de pessoas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que "não se pode politizar uma coisa tão séria para o País". De fato, não se pode. Mas é exatamente isso que o governo vem fazendo. A politização do blecaute, para dissociar o presidente Lula e a sua candidata do acidente que ela considerou "muito desagradável", ficou evidente desde logo no desaparecimento da própria Dilma, para quem o Planalto vinha criando sem cessar oportunidades de exposição, tratando-a como uma espécie de "ministra de tudo" - até do Meio Ambiente, como convém aos novos tempos verdes. A politização ficou evidente também na decisão de culpar uma tempestade pelo ocorrido. E, por fim, na pressa com que o titular de Minas e Energia, Edison Lobão, secundado pela antecessora que o telecomanda, decretou que o caso estava encerrado.




O governo segue religiosamente a lei do teflon: nada que a opinião pública possa perceber como problemático ou perturbador deve aderir à imagem da irrepreensível gestora de um governo aprovado pela maioria esmagadora da população. Para o seu patrono, tudo o mais, incluindo o modo de reagir a imprevistos adversos, tem de se subordinar a esse mandamento. Eis por que Lula e Dilma esperaram por uma ocasião favorável - o lançamento de um plano de ação contra o desmatamento da Amazônia e a revelação de que o abate caiu este ano mais do que em qualquer outro período desde que vem sendo medido - para se manifestar em coro sobre o apagão e explicá-lo pelo imponderável. "A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva", resignou-se o presidente, depois de lembrar que "Freud dizia" que a humanidade não pode controlar tudo, as intempéries, por exemplo. "Se tem uma coisa que nós humanos não controlamos são as chuvas, raios e ventos", repetiu a ministra.



Pouco importa que subsistam dúvidas consistentes sobre a versão oficial para a causa do blecaute - raios, ventos e chuvas, na região de Itaberá, no Estado de São Paulo, teriam danificado simultaneamente três linhas separadas de transmissão da Hidrelétrica de Itaipu, desencadeando uma reação em cadeia que deixou às escuras boa parte do País. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o principal centro brasileiro de estudos atmosféricos, confirma que, na hora do apagão, uma tempestade com raios se abatia sobre a região de Itaberá. Ressalva, no entanto, que as descargas mais próximas das instalações elétricas caíram a pelo menos 10 quilômetros de distância. Não estivesse o Planalto ansioso para varrer o problema para debaixo do tapete - e prosseguir com a campanha eleitoral antecipada - promoveria a "investigação cabal" sobre o episódio, defendida pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.



Ainda na remota hipótese de que tudo tenha começado com uma tempestade - e não com uma falha humana ou de equipamento -, o que deixa perplexos os especialistas do setor foi a disseminação do problema. Eles se perguntam por que os efeitos da pane não ficaram confinados à área de origem. "É preciso saber o que aconteceu com os sistemas inteligentes que teriam de isolar um defeito e impedir que a falha de fornecimento se alastrasse", observa o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. A questão, em outras palavras, é a da vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro. Mas isso aparentemente não inquieta a ministra Dilma Rousseff. Para ela, a segurança da operação é de 95%. Não está claro se o número é força de expressão ou um índice preciso. De todo modo, argumentou, chegar a 100% de segurança obrigaria a população a "pagar uma conta de luz bastante mais gorda". Por isso, "não estamos livres de blecautes".



Obviamente, nenhum país ou região do mundo está. A frase, portanto, escamoteia o essencial: saber até que ponto - a ser verdadeira a teoria do raio adotada pelo governo - o vasto sistema elétrico nacional está efetivamente "sujeito a chuvas e trovoadas", como notou com propriedade a colunista Dora Kramer no Estado de ontem. Mas no vale-tudo eleitoral em que estão imersos, nem Lula nem a sua escolhida estão interessados em tratar publicamente de um tema delicado como o desempenho do governo em gerir o setor energético. "Ao presidente Lula não apetece resolver problemas, mas se livrar deles de qualquer maneira." ¨

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Buana! Buana!

Quando ouso colocar um editorial aqui é porque sei que há mais conteúdo do que meramente as palavras ali estampadas. Hoje é dose dupla. Não porque copio o que está escrito, é muito mais pelo que implicitamente, subliminarmente, apreendemos.

Rendo-me às palavras do Estadão de hoje.

"Duplo apagão em Brasília





Enquanto não se souber com certeza o que causou o blecaute da terça-feira à noite - e, sobretudo, por que não se impediu que o problema avançasse pela madrugada, atingisse 18 Estados, o Distrito Federal, além do Paraguai, afetando perto de 60 milhões de pessoas -, será no mínimo temerário apontar o dedo para essa ou aquela autoridade do setor elétrico nacional. Mas não é preciso esperar mais nada para deplorar o apagão de competência (do governo) e de integridade (da oposição) ao longo do day after. Ministros e outras autoridades tiveram em comum com os políticos um desempenho marcado por um monumental pouco-caso com os brasileiros ansiosos por respostas confiáveis e condutas honestas.

No lugar disso, ouviram dos governistas que tudo não passou de um "microincidente", ou de uma "marolinha". Dos oposicionistas, que foi a "pá de cal" na candidatura presidencial da ministra da Casa Civil e ex-titular de Minas e Energia, de 2003 a 2005, Dilma Rousseff. E, ainda, que o apagão de agora (na transmissão) deixou o presidente Lula em pé de igualdade com o antecessor Fernando Henrique, em cujo segundo mandato o País conheceu uma prolongada crise de geração de eletricidade. A pré-candidata, por sua vez, em contraste clamoroso com a sua habitual onipresença destinada a promovê-la junto ao eleitorado, simplesmente se apagou. Cancelou compromissos, ausentou-se de eventos aos quais decerto compareceria em outras circunstâncias e, no seu único contato com jornalistas, fugiu das perguntas, mandando "um beijo".

É provável que ela tenha se eclipsado por decisão de Lula, preocupado em dissociá-la do acontecimento que interrompeu a longa sequência de fatos positivos para o governo, ou assim explorados, de olhos postos na sucessão. Se o fez, foi tão pequena - e manipuladora - quanto os seus adversários. Afinal, em vez de se ocultar, a ministra devia ter esclarecido, de imediato, o que a levou a afirmar categoricamente, numa entrevista há duas semanas, ter a certeza de que "não vai ter apagão". Devia esclarecer também o que fez das recomendações recebidas em julho do Tribunal de Contas da União (TCU) para prevenir um novo apagão. É verdade que, nas duas situações, o termo empregado designasse um problema estrutural, não o risco de um evento isolado. Mas ela teria de ser a primeira a se manifestar a respeito, jogando limpo com a sociedade.

Tudo considerado, o presidente ainda foi quem menos mal se saiu no episódio. Em público, por se recusar a "chutar" as causas do apagão, guardando-se de fazer comentários "enquanto não tiver a informação concreta e objetiva". A portas fechadas, segundo se noticiou, pela descompostura que passou em membros de sua equipe. "Parem de falar besteira sobre coisas que vocês não sabem", ordenou. "Não quero meias explicações nem dados parciais." Ele tinha motivos de sobra para se indignar. Mais uma vez, Brasília reagia a uma emergência nacional batendo cabeças, às tontas, e mantendo o País no escuro sobre o que se passava. Figurões do setor elétrico passaram boa parte do dia dando explicações contraditórias, num show de descoordenação, negligência e desrespeito pela população.


Isso quando não se contradiziam a si mesmos, modalidade em que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do PMDB maranhense, levou - previsivelmente - a palma. Dele, que se enrolava a cada declaração, se pode dizer que os seus conhecimentos da área talvez nem sequer lhe permitam trocar uma lâmpada. Mas ele não caiu na Esplanada como os raios que, na versão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), recebida com ceticismo por especialistas independentes, teriam derrubado "em milissegundos" três linhas de transmissão que ligam a Hidrelétrica de Itaipu à malha nacional. Lobão está onde está por conta dos arranjos políticos de Lula com o presidente do Senado, José Sarney. Por isso tem reduzida autoridade moral para dar um "cala a boca" em quem "fala bobagem sobre o que não sabe".

Só agora, no afã de proteger a pré-candidata que Lula lhe impôs, o PT ousa criticar publicamente Lobão. "Quando Dilma era ministra, não tivemos nenhum apagão", atacou a senadora Ideli Salvatti, de Santa Catarina. Na verdade, ninguém acredita que Lobão seja mais do que o executor da política de Dilma na área da eletricidade.



N. da R. - Esta nota já estava na página quando a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, veio a público para manifestar-se sobre o blecaute"

E lê que lê, vamos de Dora Kramer:


"Chuvas e Trovoadas


A ser verdadeira a versão de que o blecaute em 18 Estados do País se deveu ao mau tempo que se abateu sobre uma cidade chamada Itaberá (SP), isso significa que o Brasil tem um sistema de energia sujeito a chuvas e trovoadas. Portanto, vai acontecer de novo. Tantas vezes quantas forem contundentes as atribulações da natureza.

Agora, se ficar provado que a história não passa de uma desculpa esfarrapada, quer dizer que o Brasil tem um governo cuja preocupação primordial é tirar o corpo fora. Fugir de suas responsabilidades administrativas para não causar prejuízos à sua atividade política.

Em qualquer uma das hipóteses, estamos mal arranjados.

A se acreditar nas explicações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, um curto-circuito foi capaz de tirar de operação a usina de Itaipu porque a pane no ponto de origem desligou outras tantas linhas de transmissão e deixou às escuras o maior, mais desenvolvido, mais celebrado e exaltado país da América do Sul, a nova coqueluche do mundo.

Lobão, que deve seu cargo à ligação com o presidente do Senado, José Sarney, senhor daquela sesmaria (o setor elétrico) na parte do latifúndio da administração federal reservada ao PMDB, assegurou que o sistema é um espetáculo e comparou o episódio a um acidente aéreo: "As máquinas são feitas para serem perfeitas, mas o avião às vezes cai."

Sim, por falha do equipamento, inépcia na operação ou fenômenos meteorológicos tão graves quanto imprevisíveis.

Não foi o caso. Segundo o mesmo ministro, "o Brasil é o país de maior concentração dessas situações extremas de meteorologia" e muito mais ainda na área afetada. Se as ocorrências são constantes são também previsíveis e, por isso, é de se supor, cobertas pelos sistemas de segurança.

O diretor-geral de Itaipu, o petista Jorge Samek, atribuiu o apagão à "lei de Murphy", o secretário-geral do Ministério de Minas e Energia culpou o desligamento de três linhas que levam energia de Itaipu para o resto do País, o presidente da Eletrobrás explicou que o problema estava nas linhas de transmissão da usina para São Paulo e o ministro do Planejamento duvidou que a origem do dano estivesse na fúria do céu.

Vinte horas depois do ocorrido, Lobão volta à cena e bate o martelo na versão do temporal. E para dizer o que no Paraguai já se sabia desde o fim da noite de terça-feira. O serviço brasileiro da BBC pôs no ar a explicação sobre o curto-circuito e consequente efeito dominó a uma da madrugada de quarta-feira.

Por que o governo brasileiro só falou oficialmente 16 horas depois? Por que a embromação?

A demora e as contradições deixam evidente a intenção do governo de evitar qualquer discussão que ponha em cheque a capacidade gerencial da administração e abale a imagem da gerente exigente e eficiente da ministra Dilma.

Mas esse é um efeito secundário. O principal para o Planalto, mais que a blindagem de Dilma Rousseff, é a blindagem do presidente Luiz Inácio da Silva. É a figura a ser preservada a qualquer custo, pois dele é que depende o futuro dos demais companheiros.

Quando o governo que tanto exibe a candidata esconde a ministra fiadora da eficácia do sistema elétrico sem fazer segredo da estratégia, está sutilmente deixando que a política, na pessoa de Dilma, pague uma conta que é administrativa. De responsabilidade do presidente da República.

Não por acaso, circulam convenientes versões sobre as cobranças "firmes" do presidente e sua "irritação" com as informações demoradas e desencontradas sobre o blecaute.

É sempre assim, em qualquer crise. Lula aparece como o personagem irritado que reclama dos incompetentes, exige da equipe uma solução imediata. Logo aparece uma versão conveniente e, em seguida, o assunto é dado unilateralmente como encerrado.

Desta vez também se repetiu o roteiro, cabendo ao ministro Lobão a tarefa de pôr o ponto final na questão, a despeito da opinião da maioria dos técnicos, do governo inclusive, sobre os indicativos de falha de operação.

Ao presidente Lula não apetece resolver problemas, mas se livrar deles de qualquer maneira para que não haja obstáculos em seu caminho. Como quer transparecer a todos que a adversidade pertence a uma outra era, que na administrada por ele tudo é glória, ao presidente os percalços soam ameaçadores.

Atrapalham a sustentação do discurso do triunfo absoluto.

Mas, como nem tudo é desastre nem tudo é esplendor puro, convém sempre lidar com a realidade com mais equilíbrio para que os tropeços possam ser vistos como eventualidades naturais e os danos contabilizados sejam bem mais reduzidos.

Se no caso do blecaute o governo não mentiu, tergiversou. Para ganhar tempo até pensar como administrar o revés com o mínimo de prejuízo político possível, quando talvez ganhasse mais se optasse pela lógica do máximo benefício administrativo."

Dá para entender? É ler o "1808" do Laurentino Gomes, se recolher em silêncio e colocar o "bestunto" a pensar e tirar suas conclusões....

Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?

Buana, o cacete!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cegos no tiroteio

Adoro a Dora (Kramer)

"O governo mostrou-se muito mais preocupado em ressaltar as maravilhas do sistema elétrico, em escapar de uma comparação que lhe seria eleitoralmente desfavorável, em poucas palavras, em tirar do corpo fora, do que em tratar da questão de maneira mais objetiva, menos política.




A oposição, de seu lado, também se atirou apressada no carnaval. Já sonhando em atribuir à ministra Dilma Rousseff, mandachuva do setor elétrico de direito até a queda de José Dirceu da Casa Civil e, ao que consta, manda de fato até hoje.



Bom para ela o episódio não foi. Duas semanas atrás, Dilma havia garantido que a ocorrência de apagões era algo totalmente fora de cogitação. A ministra nem sequer se deu ao trabalho de acrescentar um "salvo se..." ocorrerem adversidades climáticas.



Não, a crer da palavra dela, o sistema estava imune a acidentes. Não estava. Se é que houve mesmo acidente.



Ainda assim a oposição mostrou-se infantil ao partir para acusações à deriva antes de saber realmente o que havia ocorrido. A pressa desqualifica a crítica.



Ora, perguntará o eleitor, se é tão patente assim a incompetência da operação do sistema, se o apagão foi fruto de imprevidência continuada, onde estava a oposição que não reclamava?



Ademais, em termos de repercussão na vida das pessoas, não há como igualar um episódio de quatro horas com um racionamento de meses, que alterou totalmente a rotina da população. A menos que se repitam os blecautes, nem Lula nem Dilma sofrerão o desgaste sofrido por Fernando Henrique.



Querer criar artificialmente o prejuízo denota a busca desesperada por qualquer motivo. Da mesma forma como maquiar o infortúnio demonstra obsessão pela coleta de benefícios. Tudo no modelo da autorreferência eleitoral em que a consistência dos fatos é mero detalhe."

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Caetano esclarece fala sobre Lula em entrevista ao Estado

SÃO PAULO - Em entrevista a Sonia Racy, no Caderno 2 do Estado, no último dia 2, o compositor Caetano Veloso se referiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva com expressões como "analfabeto", "cafona" e "grosseiro" ao anunciar preferência pela eventual candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência. "Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem", disse na entrevista.

A declaração provocou reações no meio político. Na última sexta-feira, o próprio Lula reagiu: "Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro do que isso". Leia a carta que o cantor enviou à redação:

"O que mais me impressiona é as pessoas reagirem diante da manchete do jornal, tal como ela foi armada para criar briga, sem sequer parecerem ter lido o trecho da entrevista de onde ela foi tirada. É um país de analfabetos? A intenção sensacionalista da edição tem êxito inconteste com os leitores. Pobres de nós.

Sonia Racy sabe que eu ressaltei essa diferença entre Lula e Marina para explicar porque eu dizia que ela é também um fenômeno tipo Obama (coisa que Racy e Nelson Motta não entenderam). Marina é Lula (a biografia) e é Obama (a cor escura e o modo elegante e correto de falar - e escrever). Li aqui que Lula disse que é burrice minha dizer isso. É. Serve para Berzoini contar alegremente votos migrando de Serra ou Aécio para Marina, não de Dilma.

Ainda mais que toca nesse ponto óbvio (que para mim tem todas as vantagens e desvantagens, não sendo um aspecto meramente negativo) da fala pouco instruída e frequentemente grosseira e cafona de Lula. Todos sabem disso. Ele próprio se vangloria. Os linguistas aplaudem. E todos têm razão: ele é forte inclusive por isso. Fala "bem": atinge a maioria dos ouvintes.

Sua fala tem competência - e ele, como eu próprio disse na entrevista, é um governante importante. Mundialmente está reconhecido como alguém que chegou lá e foi além do esperado. Quisera Obama estar na mesma situação. Querer dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente. Simbolicamente ao menos.

Não creio que ela seria um entrave às pesquisas de células-tronco e à união civil de homossexuais. Se for, eu estarei aqui para me opor a ela. Aborto, união gay, embriões são matéria do Legislativo. O executivo pode influir? Pode. Mas Marina seria uma presidente do tipo autoritário? Não creio. Criacionismo? Ela jamais cairia na confusão de ensino religioso com ensino científico. Ela é racional, atenta, dialoga com calma. Todos esses assuntos podemos debater com ela como com ninguém: ao menos estaremos certos de que ela não será hipócrita.

Se houver candidatura e campanha, teremos tempo para isso. Não penso tanto como Marina sobre a Amazônia. Penso mais como Mangabeira. Já disse. Mas forças políticas surgem assim. Marina chegar a ser candidata é notícia grande. Não posso fingir que não é. E detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula. Não estamos na União Soviética. Eu não disse nenhuma novidade. Nem considero ofensivo. É descritivo. E a motivação era esclarecer a parecença de Marina com Obama (que me interessa muito). E todos os entendidos me dizem que os banqueiros estão com medo é de Serra: adoram Lula.

Então por que a demagogia de dizer que FH era pelos de poder aquisitivo? Até os programas sociais que Lula desenvolveu nasceram no governo FH. O Fome Zero naufragou. Eles se voltaram, espertamente (e felizmente), para o Bolsa-Escola de dona Ruth. Eu ter mencionado a fala analfabeta de Lula não é bom para a campanha de Marina. Mas ainda não estamos em campanha. Eu acho."

O Crime de ser Mulher

De Eliane Cantanhêde:

(Folha de São Paulo)


Noutro dia, uma mulher de mais de 60 anos foi amordaçada, torturada e violentada por um criminoso que entrou na sua casa, em Brasília, fazendo-se passar por bombeiro eletricista.



É dramático, mas comum. Pior foi a entrevista da delegada (delegadaaa!) a uma rádio, em que ela nem sequer fez referência ao crime e ao criminoso, centrando suas suspeitas (ou seriam certezas?) sobre a própria vítima: se nunca tinha visto o homem, como entabulou conversa com ele?


Se morava sozinha, como deixou o estranho entrar? E sentenciou: "Há muita coisa estranha nessa história".



Nada disse sobre o estupro, a violência, a covardia, as escoriações, as muitas horas que a mulher havia ficado ferida, amarrada e amordaçada.



No inconsciente da delegada, a vítima era a ré. Afinal, uma mulher madura, sozinha, sabe-se lá!



É o que ocorre na Uniban, quando vândalos recalcados promovem uma rebelião, perseguem, ameaçam e humilham uma colega indefesa, porque...



Por que mesmo? Ah, sim! Era insinuante. E ela é que acaba expulsa pelo conselho universitário, até o reitor agir. A vítima virou ré. Afinal, uma mulher jovem, bonita, de saia curta...



São dois casos bastante simbólicos. No de Brasília, não foi um policial bruto e machista que inverteu as condições de vítima e réu: foi uma delegada mulher.



No da Uniban, quem embolou os personagens foi o conselho de uma entidade acadêmica, que foi criada e é regiamente paga para cuidar da educação (e da segurança) dos filhos alheios.



Se a delegada e a cúpula da escola são os primeiros e mais insensíveis algozes, para onde correr? A quem recorrer?



O "mal" e o "bem" se embaralham cruelmente, e a vítima passa a ser cada vez mais vítima -na condição de ré.



PS - Por falar nisso, no Estado de Maluf e na capital de Pitta, quem é condenada e paga a conta é Luiza Erundina. É de rir ou de chorar?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Frase(s) pinçada(s) - 7

Não sou PV mas vou de Dora Kramer, mais uma vez.


"Origem e destinos


Do que fala Caetano Veloso - que, aliás, será apontado como preconceituoso por isso - quando diz que Marina Silva não é "analfabeta" como o Lula?

Fala sobre o esforço da senadora em se aprimorar e aproveitar as oportunidades dadas pela vida. Fala da recusa da senadora em fazer da adversidade de origem um proveitoso destino.

Fala de uma mulher nascida nos seringais da Amazônia, alfabetizada aos 14 anos de idade e que tem hoje na expressão do idioma de seu País um de seus melhores atributos.

Marina não precisa da grosseria para se identificar com seu povo. Ao contrário: oferece-se a ele como prova de que o aperfeiçoamento - de palavras, pensamentos e comportamentos - vale a pena.

Marina não nivela o Brasil por baixo, mostra o valor do esforço e não celebra a indulgência."

P.S.: Nós somos e estamos carentes dessa "finesse", o povo agradeceria se nossos governantes fossem "menas", com perdão pelo assassinato verbal.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Frase(s) Pinçada(s) - 6

Do Notas e Informações d´O Estado de São Paulo de hoje:

(...)

"No interior do governo, Lula aninha uma burocracia sindical que se apropria sistematicamente do mando dos gigantescos fundos de pensão das estatais, os quais, por sua vez, têm assento nos conselhos das mais poderosas empresas brasileiras. Forma-se assim uma intrincada trama de interesses que se respaldam reciprocamente, não raro em parceria com empresários que conhecem o caminho das pedras - "nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas", diz Fernando Henrique -, fundindo-se "nos altos-fornos do Tesouro". Isso dá ao presidente um poder formidável sobre o Estado nacional que extrapola de longe as suas atribuições constitucionais. É uma espécie de volta, em trajes civis, ao regime dos generais. No trato com o Congresso, Lula faz os pactos que lhe convierem com tantos Judas quantos estiverem dispostos a servi-lo para se servirem dos despojos da administração federal, enquanto a oposição balbucia objeções que dão a medida de sua irrelevância.

"Parece mais confortável", acusa o ex-presidente, "fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes." Mais confortável porque mais seguro. São raros os políticos oposicionistas que não se deixam acoelhar pelas pesquisas de opinião que mantêm Lula nas nuvens e que o aparato de comunicação do Planalto, sob a sua batuta, não cessa de exacerbar - daí a pertinência do termo "culto à personalidade". Desde a derrota de 2006, o PSDB de Fernando Henrique praticamente desistiu de expor as responsabilidades pessoais do adversário vitorioso pela autocracia em marcha no País. Os pré-candidatos tucanos José Serra e Aécio Neves, por exemplo, medem as palavras quando falam de Lula, decerto receando que ele possa fazê-las se voltarem contra eles mesmos junto ao eleitorado que o venera. Mesmo na condenação à campanha antecipada da ministra Dilma Rousseff, a oposição parece comportar-se como se estivesse "cumprindo tabela".

Lula não precisa tomar emprestada a borduna de Hugo Chávez para ditar os modos e os caminhos da evolução da política nacional. "Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados", descreve Fernando Henrique, "eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições.""

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Hiking History: England’s Ancient Ridgeway Trail

De vez em quando eu gosto de viajar, pessoalmente ou nos textos interessantes que abordam o tema. Algumas vezes a gente topa com um artigo interessante.

Ontem, do meu semi-retiro, li e senti vontade de partilhar o texto que dá o título a esse post e que você pode ler aqui no The New York Times.

Preciso fazer esse roteiro enquanto a máquina ainda esta azeitada...

domingo, 1 de novembro de 2009

Frase(s) pinçada(s) - 5

De Renato Cruz, Caderno de Economia d'O Estado de São Paulo,de hoje, entrevistando Carlos Kirjner

"O engenheiro ,que se diz palmeirense fanático, terminou a sua
mensagem: "Finalmente,gostaria de adicionar o seguinte à minha
entrevista: Os Estados Unidos tem o Obama, o Palmeiras tem o Obina e o Corinthians tem o obeso.""

PS: Sou sãopaulino...

Sent from my iPhone 3G S

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Frases(s) pinçada(s) - 4

Essa Dora Kramer é minha ídala (?!)


"Espelho

Falando aos catadores de lixo, o presidente Lula disse que a elite discrimina as pessoas por suas profissões.

Muita gente faz isso. Inclusive presidentes da República que elevam o presidente do Senado à condição de "pessoa "incomum"."

De ficarmos boquipasmos

 

 

Da coluna de Dora Kramer de ontem n'O Estado de São Paulo.

NB: Outro neologismo meu, boquipasmo, auto definível. Mas reparem, Dora Kramer usa o termo "boquiabrir" provavelmente derivado da mesma raiz que a minha palavra inventada. Nosso "quaserrei" é bárbaro, literalmente.

 

"Elogio ao escapismo




Da constatação do presidente Luiz Inácio da Silva de que "não é fácil" acabar "rapidamente" com a violência no Rio, ou em qualquer parte do planeta, não se pode discordar. Inclusive porque é impossível, mesmo vagarosamente, banir o crime do mundo.

Só não é possível se conformar que autoridades públicas se limitem a constatar obviedades e depois mudem de assunto sem se sentirem minimamente na obrigação de dizer como e quando pretendem cumprir o dever constitucional de zelar pela segurança do cidadão.

Muito menos é possível aceitar que fujam de suas responsabilidades com discursos de puro escapismo à falta de elementos para estabelecer um diálogo sério com a sociedade, em particular com aqueles que vivem em áreas conflagradas sob ameaça diária da ação do banditismo e do desnorteio do Estado.

O uso do plural justifica-se porque tal conduta não é apenas do atual presidente, mas é ele o responsável no momento.

De alguém há sete anos no comando da Nação é de boquiabrir escutar que "a presença do narcotráfico tirou o romantismo das favelas cariocas, locais sempre citados por sua ligação com o samba".

Em que mundo vive o presidente da República, cujo maior atributo é sua comprovada identificação popular, sua proclamada capacidade de compreender as aflições dos desvalidos?

"Hoje, o narcotráfico é uma realidade e, com ele, não tem poema", acrescentou, parecendo não compreender que tal conceituação poética há muito deixou de fazer parte daquele cotidiano.

Evidentemente o presidente Lula sabe disso. O que não sabe é o que dizer e o que fazer diante disso. Por isso, diz o que lhe vem à cabeça e que lhe pareça mais apropriado para falar sem se comprometer com uma questão em tudo e por tudo pertencente à sua alçada, atinente à sua condição de condutor dos processos de mudanças aos quais, diga-se, prometeu fazer frente na campanha eleitoral e depois repetiu nos discursos das duas posses.

É bem verdade que, em ambas as ocasiões, passou quase ao largo do tema para quem sucedia um governo que havia fracassado assumida e fragorosamente no atendimento a uma das maiores angústias dos brasileiros.

Disse Lula em janeiro de 2003: "Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o País e fizeram do cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos contra todos. Por isso, inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal em parceria com os Estados, a serviço de uma política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente."

Disse Lula em janeiro de 2007: "Sinto que, em matéria de segurança pública - um verdadeiro flagelo nacional - crescem as condições para uma efetiva colaboração entre a União e os Estados da Federação, sem a qual será muito difícil resolver esse crucial problema."

E, sobre isso, das frases de efeito não passou, a despeito das inúmeras vezes em que celebrou o trabalho da Polícia Federal no combate ao "crime organizado" para fins de autoexaltação."

PS (meu): Boquipasmo eu uso assim mesmo, boquipasmo, quando fico de boca aberta e sem palavras, Aurélio e Houaiss, se cuidem, esse é um jacquismo de alguns anos.
Já que a língua é uma entidade aberta, porque não?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O par perfeito




Eu nem iria comentar nada sobre o assunto já que, em sí, é um assunto banal. Mesmo assim, lembrei-me que neste mês de Outubro completo sete anos do meu lento aprendizado do golf.

Não vou esmiuçar aqui as nuances que envolvem esse jogo tão complicado que necessita uma capacidade que está acima da maioria de nós, eu incluído, para entender as regras.

No fim basta saber o que é um par. Um par três significa um buraco que é feito em três tacadas, sendo uma do "tee" (onde se coloca a bola para iniciar o buraco), que, em princípio, deve ir direto ao "green", que é a área plana onde se encontra o buraco . Daí,  usa-se um taco, chamado "putter", que leva a bola, rolando pelo chão, até as proximidades do buraco, "hole", e a terceira é a que tem de ser embocada. Daí o nome  "par três". Analogamente temos os buracos de par quatro e par cinco que seguem o mesmo raciocínio, Ou seja duas ou três tacadas até o "green" e mais dois "putters" (sempre). É assim que os campos de golfe são projetados. Basta de teoria. Um campo tem 18 buracos e de 70 a 72 tacadas de "par".

Pois, depois de sete anos, eu ainda não domino o esporte da bolinha parada. É coisa para gente muita concentrada (que sou), muito de obsessão e de compulsão, quase um TOC, em busca do "swing" perfeito e da tacada perfeita. Some-se ainda que pode-se levar na taqueira um máximo de 14 tacos e isso basta para pirar a cabeça de qualquer ser normal, que não sou...

Depois ainda há, a transmissão de jogos de golfe que nos deixa complexados. Já temos até um jogador, Tiger Woods, que tornou-se bilionário (em dólares), e que com fratura de estresse e um joelho bichado ainda ganhou um par de torneios o ano passado. Passou por cirurgia, reabilitação e ainda ganhou uma meia dúzia de torneios esse ano, inclusive a Copa Fedex, coisa de 10 milhões de dólares, pouca coisa.

Pois esses profissionais são daquele time de duzentos ou trezentas pessoas que se destacam, em todo mundo, por suas jogadas (e ganhos) sensacionais.

Encerrados os prolegômenos, passemos aos entretantos.

Pois, depois de sete anos de meu distúrbio com temperos de TOC, eu consegui fazer um par perfeito.
Foi num buraco de par quatro. Vou ao ponto para ser sucinto.

Bola no "tee", um driver de 200 e poucas jardas (é, jarda=~91cm.), distância pouca que eu não dei uma tacada decente. Para conferir, quase dois quarteirões de distância e eu não estava feliz....

O diabo é que a bola ficou atrás de uma árvore, uma "pata de vaca"  de seus 10m. de altura e minha bola a umas 15 jardas. No golfe, e na vida é assim, águas passadas não movem moinhos. Pego um "híbrido 5", finjo que a árvore não existe e dou a segunda tacada. Perfeita, lá estou eu de novo no trilho a 80 jardas da bandeira (buraco, como queiram).

Pego um terceiro taco, um "pitch", miro na bandeira e descarrego sem dó na bolinha todo o meu conhecimento (falta de) e vejo a bola subir feito um foguete e cair, elegantemente, a um pé do buraco (pé=~30cm.).

Aí, sem pressa, que essa foi a única tacada fácil, tão fácil que, todos nós, já colocamos para fora dessa distância, eu, qual numa junta médica  (que não sou), avento todas as mais impossíveis hipóteses de como não errar esse mísero pé fatal e, chegada a hora, eu pego o quarto taco, o "putter" e coloco a bola  no buraco.

Depois de 7 anos eu dei uma série de quatro tacadas dignas de serem filmadas, parece pouco mas não é, ao menos para mim.

Nesse dia eu fui dormir mais feliz, sete anos...

Dá-lhe Camões!

         Sete anos de pastor Jacó servia  
         Labão, pai de Raquel, serrana bela,
         Mas não servia ao pai, servia a ela,
         E a ela só por prêmio pretendia.


Pensou?





Agora, a foto aí em cima é de um torneio que eu participei em Fevereiro desse ano e foi o mais perto que eu já cheguei de um "hole in one", que é a tacada em que você, do "tee", emboca a bola, num par três (ou quatro, essa eu já ouvi falar, mas nunca ao vivo), direto. mas isso já é uma longa história. Apenas reparem que estava chovendo e o buraco que a bola fez ao cair a umas 180 e tantas jardas (uma "madeira 5") e, caprichosamente rolou até a borda do buraco. Coisa de "nuts", ou, como diria o nosso amigo e humorista,  Jô Soares, "chose de loque".

domingo, 25 de outubro de 2009

Frase(s) pinçada(s) - 3

"Lula é o nadador que não pode parar de nadar, o ciclista que não pode parar de pedalar, o equilibrista que corre de uma vareta a outra para não deixar o prato cair. Ele não pode se dar ao luxo de parar de falar. Daí que corra o risco permanente de dar bom-dia a cavalo. Um exemplo foi a frase confusa sobre Jesus Cristo e Judas. Eu entendo que o presidente disse o seguinte: no Brasil, não tem como o governante deixar de fazer aliança com adversários, para garantir apoio político. Mas Lula preferiu fazer uma graça. Deu um drible a mais. E caiu do cavalo."

Publicado hoje no Blog do Alon
por Alon Feuerwerker

Frase(s) pinçada(s) - 2

Do Notas e Informações do Estado de  São Paulo de hoje:

"A democracia brasileira é muito restritiva para o presidente Lula. Ele poderia fazer muito mais pelo País, se não fosse tolhido em suas intenções, sempre boas, pelos entraves institucionais. Esta é a tradução precisa de seus insistentes ataques ao Tribunal de Contas da União (TCU) e aos demais órgãos fiscalizadores que ocasionalmente atravessam seu caminho. "O Brasil está travado", disse o presidente ao discursar, sexta-feira, na cerimônia de posse do novo advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams. "Não é fácil governar", queixou-se, "com a poderosa máquina de fiscalização e a pequena máquina de execução." Mas a máquina de execução não é tão pequena assim. Isto é evidente para quem acompanha o crescente inchaço dos quadros do Executivo e de sua folha de salários. Não é pequena, mas é cada vez mais ineficiente, por causa dos critérios impostos pelo grupo governante à administração federal.

(...)

(...) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não admite nenhuma responsabilidade pelos obstáculos enfrentados na realização de projetos. A culpa é sempre dos outros e a ocorrência de problemas é facilitada por um sistema institucional disforme. De acordo com a sua descrição, neste país estranho "uma pessoa de quarto escalão resolve e tem mais poder que o presidente da República". A frase é muito importante, porque denuncia, com perfeita clareza, a forma como o presidente Lula percebe o mundo da administração e das normas. O importante, para ele, é o status do agente, não o valor da regra. Por esse critério, um guarda de trânsito não deveria ter poder para multar uma autoridade mais alta. Mas esse critério parece funcionar adequadamente em algumas circunstâncias. Afinal, o presidente da República esteve entre os primeiros contribuintes beneficiados com a restituição do Imposto de Renda pago a mais. Como acreditar em casualidade?


No mesmo discurso Lula voltou a defender suas viagens, para "acompanhar obras" - como se isso fosse função presidencial. "Quem engorda o porco é o olho do dono", argumentou, errando a citação. O animal do provérbio é o boi, mas isso não é o mais importante. Ele respondia nesse momento a quem o criticou por fazer comícios eleitorais às margens do São Francisco. "Não tem problema viajar para fiscalizar", comentou depois o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. "O problema", acrescentou, " é fazer campanha." "
 
PS: Logo ao iniciar essa séria série (difícil deixar de escrever uma ironia com saber/sabor de trocaletra) de frases pinçadas, tenho plena consciência de que um artigo inteiro está num contexto mais amplo e portanto mais fluente e causal. Não quero no entanto, não faz parte do meu escopo publicar os artigos na íntegra.

Aliás se não leram, ou não tiveram acesso , leiam o artigo do Mauro Chaves no mesmo jornal O Estado de São Paulo, de ontem. Parodiando a (boa) propaganda: - "Não tem preço!"

PS2: Ainda vou pensar sobre o assunto, mas, acho. que ao título dessa(s)  frase(s) pinçada(s) poder-se-ia (ainda não esqueci da mesóclise!) acrescer o título ou subtítulo "O Rei está Nu", quando o objeto das ditas frases forem o nosso "quaserrei" (neologismo meu).

sábado, 24 de outubro de 2009

Frase(s) pinçada(s)

Não sei onde li, mas o que li é pura verdade.

Quando lemos um jornal é porque nos identificamos com a sua linha editorial. De uma maneira geral, se levarmos em conta esse mundão afora, os jornais brasileiros, de circulação nacional, se destacam pela excelente qualidade de seus noticiários, tanto no que tange as às noticias locais quanto ãs internacionais.

Já li muito jornal para saber de notícias daqui do Brasil quando estou fora, e posso atestar, que a grande maioria, só dá notícias regionais, deles, é claro.

Apesar disso eu leio o jornal, quer na forma impressa, quer no antigo e potencialmente atrasado papel, quanto nas suas formas eletrônicas, internet, para ser claro,  me informar e formar opinião.

Mas o problema é que leio os comentários daqueles que se identificam com o que penso. Portanto, ao repetir frase(s) sinto que o mundo ainda tem jeito, ao menos aqueles alfabetizados podem ler críticas que são construtivas, pena que os "politikos" tem ojeriza a ler jornais, jornalistas atrapalham et cetera et caterva.

No entanto coloco aqui a(s) minha(s)  frase(s) pinçada(s) no intuito de colocar em letra de forma, aquilo que li, em letra de forma, maneira de me desabafar, daquilo que me agride.

Do jornal O Estado de São Paulo, coluna da Dora Kramer:

"Não bate de frente com ninguém que possa vir a lhe ser útil amanhã, não enfrenta questões polêmicas, não compra brigas difíceis nem aceita disputa com igualdade de condições, só entra em conflitos protegido por escudos e, sobretudo, não confronta paradigmas."

Comentário meu:

Pena que ele não leia jornais e nem respeite o próximo (nós).

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Questão de vida ou morte!

Terça à noite fomos à Sala São Paulo, concerto da Cultura Artística, que ardeu no ano passado e só sobrou o painel do Di Cavalcanti, para um concerto do magnífico Arcadi Volodos.  Sem querer entrar no assunto, o melhor pianista que eu já vi ao vivo. Dono de uma técnica e de uma sensibilidade apuradíssima.

Ficamos ali, embevecidos, e ainda ouvimos trés bis além do programa (extenso e) denso. Um "happening"!

Saímos todos flutuando rumo às nossas casas. Caso haja oportunidade de vê-lo ou de escutar um CD, não percam.

Mas, voltando à vaca gelada, no intervalo eu dei uma ligadinha protocolar no celular já que tenho pais e sogros idosos e cautela  é fundamental, se é que me entendem. Um olho no gato o outro no peixe. Ficamos sempre de sobreaviso.

Ao ligar o meu celular, vem os inevitáveis e-mails, sempre eles. E pelo jeito a coisa era grave, muito grave, transcrevo abaixo:

 " Boa Tarde!

   Estou precisando de umas medidas para executar o técnico da cozinha,
   preciso da marca e modelo de seu micro ondas e do fogão.
   Aguardo um breve retorno,

F. "


A situação era gravíssima! Alguém ia morrer! Céus!

Iam executar o técnico da cozinha! E eu, ia ficar sem a cozinha (a da reforma, bem entendido).

Pensei em dar uma de imperador romano, sei lá. Dedo para cima, ele sobreviveria, dedos para baixo e os leões o comeriam. Coitado do técnico.

Esperando não ser muito tarde, batuquei minha resposta:

"Não mate o técnico! Ele não fez nada ainda...


Amanha eu ligo e vamos comutar essa pena de morte.

J."


Repito o meu erro do amanha sem amanhã, digo do til sem til, ou, quero dizer, vice-versa, devemos notar que era uma questão de vida ou morte...

Dormi meio preocupado mas, vá lá, pensei comigo, se mandaram o e-mail é que ainda não executaram o técnico. Ele aguentaria até ontem de manhã.

Pontualmente às 10 horas eu liguei para saber as medidas do dito fogão. Minutos depois eu batucava a resposta:

"F.,

Pelo menos as medidas do fogão.
 

Fogão de Embutir  Modelo C 5B branco
Medidas do fogão: LxAxP 800x670x717mm
Medidas do nicho; LxAxP 768x610x597mm

Qualquer dúvida, por favor fale com F. (outra) da firma X. no telefone tal e tal

Pode tirar o condenado do corredor da morte.

Quanto às medidas do forno de micro-ondas, depende da sua modulação, não vamos estragar o seu técnico (projeto),
Por favor me dê uma estimativa de dimensões, que você precisa ou que esteja disponível, que nós daremos um jeito.

Bom dia,

J.

PS: Não dava para perder a piada..."


E dava?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Zuzubem?

Hoje seria (e é) a vez do relógio abaixo mencionado.

Dá para ver muitas coisas, entre elas a minha foto (já que fui eu mesmo que tirei), se repararem no reflexo do vidro, poderão divisar a minha silhueta.

Mas, alguém que perceba bem as coisas, verá que o relógio anda no sentido anti-horário. E porque? E porque não? Eu sempre me perguntei, por que seria que os relógios rodam num sentido e não no outro.

Convenções? Ora as convenções, para que servem? Para serem transgredidas (dentro da lei, "of course!").

Esse não é o meu primeiro relógio "peculiar". Já tive um outro que sumiu numa mudança mas que eu, tenho certeza, na próxima arrumação eu vou achá-lo todo "pimpão". Sem pilha, combalido, mas pronto para funcionar no mesmo sentido anti-horário, pronto para marcar o tempo que, inexorável, segue o seu curso.

Coisas de "Benjamin Button" onde se vê claramente que o princípio e o fim igualam-se, começamos dependentes e assim, da mesma forma seguimos nossos destinos, rumo a um fim que também não é nada brilhante.

Daí meu capricho com os relógios. Já que não uso nenhuma joia, capricho nos relógios. Não os caros, que não quero ser vítima de furtos, ao menos se me levarem o meu, o prejuízo é apenas simbólico, afora as inconveniências emocionais.

Mas gosto assim, de achados curiosos, excentricidades, peças não convencionais. Adoro os mecânicos, a corda, automáticos e quejandos.

Aliás, para ser claro, a grande maioria dos relógios a quartzo, vem de meia dúzia de (grandes) fábricas, que as vendem a preços bem variados, a última noticia que tive era coisa de US$ 0,12 a US$ 12,00, sendo que a diferença entre eles advinha, exclusivamente, do fato dos mais caros serem testados e os mais baratos eram apenas checados.  Traduzindo, um relógio de alguns milhares de dólares tem exatamente a mesma máquina de seus irmãos mais comedidos (no sentido pecuniário). E a precisão? A mesma. Coisa de alguns poucos segundos ao ano.

Já os mecânicos, acima mencionados, por melhor que seja a manufatura, são centenas de vezes menos precisos, isso mesmo, podem variar alguns segundos por dia... Independentemente do preço.

São, em todo caso, manufaturados, feitos a mão, ainda que as peças sejam feitas a máquina. No entanto, agregam valor humano e beleza ao pulso, à parede, à mesa e onde possam mais serem expostos.

Em todo caso, o caro relógio que você vê no gajo ao seu lado, acredite, tem absolutamente a mesma máquina do meu e dos nossos que são tão ou mais precisos e custam dezenas (centenas?) de vezes menos.

Quem nasce para Timex não chega a Rolex...

A única exceção que vi, o ex-presidente Clinton, que portava o tempo todo o seu Timex ainda que, eventualmente, tivesse outros mais "griffados". Ele podia ter lá os seus deslizes, mas, era coerente no que tange ao seu horário.


E voltando ao início desse post, hoje foi mesmo o dia do relógio mas, amanhã, talvez, eu tenho uma estória, eu prefiro o termo história, já que o primeiro não existia quando me alfabetizei, sabe-se lá a diferença (já me explicaram mas eu não me convenci), que é simplesmente sensacional. Omitirei os nomes mas os fatos são absolutamente reais, daí eu preferir "história".

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O que é uma traquitana?


Resposta rápida. Uma traquitanagem.

Ainda assim não se esclarece. Essa brincadeira eu fiz ontem à noite em casa e ainda demos boas risadas sobre o fato, ou melhor, como se verá, os fatos.

Tudo começou há uns três meses atrás. Resolvemos dar uma reformada no nosso apartamento. E, como, gato escaldado tem medo de água fria, também resolvemos alugar um apêzinho mobiliado, para facilitar as coisas.

A quebradeira ia ser muito grande e não haveria nenhum lugar para ficarmos em casa, coisinha básica, demolir umas paredes e redistribuir o layout e refazer tudo de novo. Muito mais fácil falar do que fazer.

Aqui começa o périplo.

Primeiro, como viemos a saber imediatamente a seguir, nem todo apartamento decorado é mobiliado e, corolário, nem todo apartamento mobiliado, é decorado.

Optamos por uma apartamento pequeno, honesto, mobiliado (não decorado), perto da onde queríamos, tudo certo. Aí, antes de entrar, minha mulher pegou toda a louça, todos equipamentos, enfeites e o que não era exatamente necessário (a mobília?!), e enfurnou tudo. Aí trouxemos tudo de novo o que guardamos e pronto, lar doce lar...

Quase.

A televisão, mais para balzaquiana do que para adolescente rebelde, não tinha som, o que seria fácil, já que o sintonizador da NET que ficaram de colocar numa sexta (esqueceram de avisar qual sexta-feira, óbvio!) estava desligado. Aí começa a traquitana...

Lá vou eu e ligo o meu sintonizador da NET que havia trazido debaixo do braço e "voilà", por obra do destino, aparece o sinal da NET. Tudo certo, a menos da vetusta TV que não dava um pio, ficamos sem saber se era muda de nascença ou por causa da idade.

No fim dá no mesmo.

Problema de fácil resolução, vim ao escritório e (me) emprestei um par de caixinhas dessas de "25 real".

Só que a dita cuja tinha plug P2 macho. Agora começa a traquitana. Arrumei uma chave para "intermediar" de um lado o sintonizador da NET (ainda no limbo, funcionando mas "não ligado"), de outro um tocador de DVD, todos com saída RCA.

Fácil, compra outra traquitana,cabos com plugues RCA macho , chave do outro. Saída? Outra traquitana, cabo RCA com ponta P2 fêmea. Pronto, tudo funcionando (quase).

Ontem resolvi colocar na terceira entrada, afinal só havia traquitana de três posições de entrada, o meu iPod, já que gravei uns belos concertos na BBC 3, Proms 2009, um festival de verão em Londres de dois meses, música clássica da melhor qualidade.

Perfeito, um liga a NET (a NET veio depois de duas promessas e uma saudade), a outra o DVD de lei, um Philips que comprei na bacia das almas e que consegui destravar para qualquer região, num site onde basta escolher o modelo e onde consegue-se a receita da "dança da chuva", onde são guardados os segredos de polichinelo que zelosamente as companhias resguardam de nós, os terríveis consumidores, segredinhos sórdidos...

Portanto aí vem a terceira traquitana. Cabo RCA com ponta P2 macho...

-Não vendem RCA numa ponta e P2 macho na outra? perguntei inocentemente ao meu fornecedor.

-Não, responde-me ele, educadamente, mas basta o Sr. comprar um cabo com duas pontas P2 macho, viu como é fácil?

Aí ví onde nasce a traquitana, vende-se um aparelho para três aparelhos, cada um com uma traquitana que, por sua vez, engata-se numa outra traquitana.

Tudo isso vira um ninho de ratos respeitável. É fio para todo lado. Os mais possíveis e os mais impossíveis, fios de todas as cores e tamanhos diferentes. Nada que uma trigonometria espacial, tridimensional, não resolva.

Agora temos que contar com a sorte e com as incursôes felinas para que a traquitana funcione. Aliás, já por uma vez, uma das minhas felinas já apareceu com um fio (ponta P2 macho) entre os dentes e quinze minutos depois já estava tudo funcionado...

Nada como uma traquitana bem montada.

E o relógio?

Essa já é uma outra traquitana...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Por que não escrevo mais no "De Ópera e de Lagartos..."

Tudo a seu tempo.

De trás para a frente.

Depois de me dedicar por alguns aninhos, poucos na verdade, a escrever resenhas sobre óperas que, periodicamente vão ao ar na Radio Cultura FM de São Paulo, comecei a me dar conta que meus conhecimentos sobre o assunto, embora não desprezíveis, eram baseados em literatura própria (comprada) ou de terceiros, de toda forma, já publicados. Não há como inovar, a ópera segue aos mesmos ditames de um desenho animado. É um texto, cantado e encenado onde não há lugar para as improvisações. E, por incrível que pareça, acontecem um número enorme de imprevistos que tem de ser "sublimados" tanto pelos executantes quanto pela plateia (nem sempre bem educada).


Aos poucos fui formando uma opinião a esse respeito. Ao lado de uns poucos comentários e de observações próprias, eu me vi repetindo o óbvio. Há tantas fontes espalhadas pela Internet, nas Bibliotecas e nas Livrarias, que fica a impressão de que só estamos repetindo aquilo que já foi escrito. Até porque nos baseamos no que está escrito.


Ora, não sou crítico de arte, apenas um amante da boa música. Nunca pretendi reescrever o que já, por aqui, anda escrito.


No entanto, por duas vezes senti o quão difícil é respeitar o texto fonte, a ideia e, ao mesmo tempo, inovar.


Uma das vezes, um leitor das minhas sinopses reclamou que o texto era dele. Ora, o texto apareceu em sua grande parte, no site do Metropolitan Opera de New York, sem nenhum crédito pessoal. Eu, apesar disso, coloquei a fonte no rodapé do texto. Fica difícil contrapor um texto não identificado a uma informação de uma pessoa que "reconheceu como seu" o texto apresentado. Respondi, nos comentários, que "Fulano de Tal" reclamava a autoria do texto. Whatever...


Essa não me convenceu muito, mas vamos lá... Não sou o dono das sinopses, essa a verdade.


A segunda intervenção, essa sim muito inteligente, não tive como responder.


Falava eu, às tantas das obras "brasileiras" de
Golttschalk, nominadamente a "Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro", uma das mais lindas obras que conheço sobre o nosso Hino Nacional, quem não conhece essa peça deve ouvi-la, contrito e emocionado, uma grande peça escrito por um compositor estrangeiro sobre um tema que nos é muito caro e conhecido.


Após uma boa dose de pesquisa, lá fui eu colocar as minhas observações sobre o compositor e de sua música. Não estou bem lembrado dos fatos, mas, às tantas, eu falava da fase que ele passou no Brasil e de como se encantou por tudo que por aqui viu.

Após uns meses, uma pesquisadora norte-americana, muito educada, em português, me fez ver que havia um engano na biografia que eu havia garimpado. Embora eu esteja certo que ela tinha razão, já que tinha trabalhos publicados e bibliografia farta, isso me deixou desmotivado.


Não foi e nem é minha intenção criar uma obra de referência sobre a música clássica, em particular na área operística. Não aspiro esse lugar que não é meu.


Sou mais um ouvinte atento e um aprendiz aplicado.


Sou persistente mas cônscio das minhas limitações. Uma delas, escrever sobre um único e determinado assunto, engessa o pensamento. Acabei cansando...


Ainda voltando as cartas "convencionais", logo depois que postei meu primeiro zé-meio, a que não é um e-mail e nem uma carta, me lembrei da farta documentação deixada pelas cartas de Clara Schumman e Johannes Brahms, mas isso fica para uma próxima ocasião...


Aqui estou desengessado e a vontade para falar das coisas que quero e acho que merecem mais do que apenas dez segundos de atenção e que, a seguir, sofrem o processo do envio rápido e mecânico ao lixo eletrônico (até por que, no caso, esse privilégio é só meu).


Talvez aqui eu esteja reeditando o meu desejo de falar sobre as coisas do cotidiano, que tentei começar lá em meu outro blog, "De Óperas e de La
gartos..." e que minguaram pelo fato de haver tanto trabalho de pesquisa. E haja assunto!!!

domingo, 18 de outubro de 2009

Zé Meio é o e-mail!

Nesses dias de correio rápido o e-mail é o mais rápido meio de comunicação e, também, possivelmente de desinformação. Banal, em todo caso.
Já o correio normal, também tem nome em inglês, o snail-mail, ou seja, correio lento. Lento mas que deixa uma história, ou estória (como querem alguns).
Assim, já se desvendaram como os grandes compositores de música clássica pensavam, como , por exemplo, Mozart, Beethoven, Verdi e outras sumidades, Outras histórias e/ou estórias se contam pela correspondência trocada, exemplos não faltam. Há os totalmente inexpressivos (grande maioria) que nos servem nas nossas anônimas vidas, a destinatários, também anônimos, a quem queremos contar um pouco do nosso diaadia, será que na nova ortografia é assim que se escreve? Melhor grafar como dia-a-dia, esse sim, me parece mais coerente.
Portanto um blog, para e-mails, destinado a assuntos variados, a pessoas reais ou irreais, ou ainda surreais, que tal, ou, seriam que tais?
Portanto Zé Meio se apresenta, casualmente hoje, de Buenos Aires, onde vim passar uns dias, que ninguém é de ferro.
Muito prazer!