segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A arrogância como ameaça

Deu no Estadão de ontem:


"O que leva um governante a ultrapassar limites e assumir atitudes arrogantes?


Tentemos uma explicação. Em princípio, tal condição se dá quando o mandatário atinge grau tão elevado de autossuficiência que se imagina superior aos pares. Essa carga psicológica geralmente toma corpo sob o empuxo de amplo apoio popular. Embalado pelos aplausos da massa, o figurante torna-se impermeável à crítica e refratário a qualquer ponto de vista que possa borrar o diáfano manto da imagem pública. Impregna-se de uma dualidade humano-divina, de acordo com a ótica descrita pelo sociólogo francês Edgar Morin em sua obra. Para ele, celebridades que frequentam o Olimpo da cultura de massas - artistas de cinema, cantores, mandatários, reis, rainhas, etc. - têm um parentesco com as divindades. Vivem cercados de áulicos. Deles se podem esperar frases como esta, pronunciada, em tempos idos, pelo onipotente Aristóteles Onassis, ex-marido de Jacqueline Kennedy: "Somente Deus e eu somos capazes de fazer algo a partir do nada."

Baixemos, agora, no nosso terreiro tupiniquim em pleno verão de 2009. Eis à nossa frente Lula, o Filho do Brasil, com uma história que será vista por milhões de brasileiros nos próximos meses. O território será inundado por cascatas de lágrimas. Com a maior popularidade dos ciclos presidenciais, comparando-se aos idolatrados Kubitschek e Vargas, Luiz Inácio, de tão convencido de que habita o Olimpo, já não se impõe limites. Dá lições aqui, puxa a orelha de outro acolá. Diz a um estupefato George W. Bush: "O problema é o seguinte, meu filho, nós ficamos 26 anos sem crescer, agora você vai atrapalhar? Resolve tua crise." Inebriado pela fama, sugere ser uma extensão de Cristo quando compara o Bolsa-Família ao milagre da multiplicação dos pães. Mais uma lição: "Se os americanos quiserem, podemos mandar tecnologia para eles salvarem os bancos." Se o Brasil enfrentou com galhardia os dissabores da crise, pode ditar ao mundo seu modelo de capitalismo. Claro, com o braço mais forte do Estado na condução da economia. E que ninguém nos venha dar lições.

Dessa forma, a arrogância desenrola o seu véu sobre o vasto domínio estatal. A ameaça apontada pela The Economist dirige-se também à ministra Dilma Rousseff, temida pelas atitudes enérgicas na cobrança aos auxiliares. Aliás, esse é o seu calcanhar de aquiles. O que salta à vista na administração federal é certa autossuficiência. Só o governo está certo. Com sua fala direta e sem medidas, Lula parece infalível. Mesmo que a peroração não resista à lógica. O amanhã vira hoje. Não por acaso, os bilhões de barris de óleo do pré-sal são puxados do futuro para irrigar, já, os cofres da União, de Estados e municípios. A farra da arrogância faz seu carnaval fora de época. O ufanismo do Brasil-potência chega a lembrar refrãos cantados no passado. A banda toca de maneira ininterrupta Lula Lá. Mas, e a infraestrutura? Onde estão os portos reequipados? Há estrutura para recepção dos grandes navios que descobrem o Brasil como potência turística? E os investimentos estratégicos para garantir o desenvolvimento autossustentável? São enrolados no tapete da linguagem tatibitate. Na outra ponta, os gastos do governo sobem às alturas. As estruturas tornam-se paquidérmicas. Enquanto isso, três áreas básicas continuam à espera de programas estruturantes: saúde, educação e segurança. Só para lembrar: o Brasil gasta três vezes mais que a China com saúde, mas tem indicadores mais baixos. Gastos com educação chegam a 5% do PIB, mas os estudantes brasileiros exibem os piores desempenhos na lista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E a segurança pública continua um caos.

Essa é a rápida leitura sobre a dúvida expressa pela mídia internacional. Pode-se falar de novo "milagre econômico"? Ou apenas de um grande avanço? Sob o signo da arrogância, emerge um pedaço de um passado de triste memória, coberto pela faixa "Brasil, ame ou deixe-o"."

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Lula pisoteia nobres ideais, mas quem vai ligar?

De José Nêummane, ontem:

"No Brasil há um poder que manda, a vontade do presidente, e três subordinados: o Executivo, que a executa; o Legislativo, que lhe obedece; e o Judiciário, que a autoriza."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O gol contra de Lula

Editorial d'O Estado de São Paulo de hoje:

"O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que deixou ontem Brasília, é o mesmo que ali desembarcou 24 horas antes. Em nenhuma fala pública, em nenhum documento assinado, ele emitiu algum sinal, por tênue que fosse, que o seu anfitrião Lula da Silva poderia invocar como evidência do acerto de tê-lo convidado. O presidente brasileiro quer passar ao mundo a imagem de grande promotor do diálogo como instrumento insubstituível para a solução de conflitos locais, regionais ou globais. O Brasil, nessa perspectiva, já teria adquirido estatura, prestígio e respeito para se credenciar a esse papel ? e exercê-lo com êxito. Não está claro onde isso teria acontecido, salvo, quem sabe, no Haiti. Mas o ponto da megalômana diplomacia lulista, para justificar a acolhida a uma figura que disputa com Robert Mugabe, o eterno ditador do Zimbábue, o título de mais execrado governante do planeta, é que o País deve confraternizar com qualquer regime que faça praça de prestigiar o Brasil.




Faltou combinar com Ahmadinejad. Ele não concedeu nada. Ganhou, a custo zero, o reconhecimento que veio buscar. O melhor que fez foi não proferir uma enormidade que acentuasse a sua condição de pária perante o concerto das nações e que, pior do que isso para o Brasil, respingasse em Lula, sob os holofotes da imprensa estrangeira. O presidente brasileiro, em todo caso, tratou de se resguardar. A anos-luz do Lula que em junho reduziu a um mero "protesto de quem perdeu" as manifestações sem precedentes na República Islâmica contra a maciça fraude eleitoral que manteve Ahmadinejad no poder, desta vez ele disse que "a política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade". Diante do impassível chefe do governo que executou pelo menos 115 participantes das passeatas em Teerã, sem falar nas prisões e torturas em massa, Lula foi inequívoco.



"Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha", ressaltou, "com a mesma ênfase com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo" ? o Irã, como se sabe, banca o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza. Teria sido perfeito se lembrasse ao sonegador do Holocausto que o Brasil repudia também o desrespeito às verdades históricas. Mas defendeu a criação de um Estado palestino "ao lado de um Estado de Israel (que Ahmadinejad considera um "tumor") seguro e soberano". Tergiversou, porém, ao abordar o ponto nevrálgico do contencioso da comunidade internacional com o Irã ? o seu programa nuclear. Embora instasse o interlocutor a trabalhar com os países interessados em "encontrar uma solução justa e equilibrada para a questão", tropeçou no modo pelo qual justificou "o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear com fins pacíficos".



"É simples", alegou. "Aquilo que defendemos para nós defendemos para os outros." Brasil e Irã são signatários do Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas (TNP) e integram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que fiscaliza as atividades dos países-membros. A partir daí, a equivalência não se sustenta. O Brasil, ao contrário do Irã, nunca mentiu aos inspetores internacionais sobre as suas atividades no setor, nunca ocultou as suas instalações e centros de pesquisas nucleares ? e nunca foi alvo de sanções econômicas do Conselho de Segurança das Nações Unidas por transgredir repetidamente as normas internacionais nessa matéria. Decerto existem "bombistas" no País, mas o mundo não desconfia das intenções brasileiras. Já a credibilidade do Irã é nula ? e a contorcida versão apresentada por Ahmadinejad em Brasília para explicar a recusa da proposta que permitiria a Teerã enriquecer seu urânio no exterior apenas comprova que o Irã age de má-fé, para ganhar tempo e dificultar a adoção de novas punições.



Não há a menor razão para crer que isso mudará por causa das exortações do "bom amigo" Lula, que corre o risco de ver desmoralizada a sua pretensão de atuar como moderador entre o Irã e os países com os quais finge negociar. As fantasias triunfais do Planalto sobre a sua capacidade de influir nas grandes questões mundiais ? que incluem o desmedido projeto de intermediar o conflito israelense-palestino ? levaram o presidente a abrir os braços a Ahmadinejad. Mais do que uma iniciativa fútil, foi um revés autoinfligido. Como diria Lula, um gol contra."

domingo, 15 de novembro de 2009

Assassinando a estatística


De Sonia Racy (Caderno 2):


Saindo da cartola política

 
por diretodafonte


"Diferentemente do que muitos acreditam, pode-se fazer mágica com números concretos. E pelo jeito foi essa a opção de Guido Mantega ao alardear esta semana que o PIB do Brasil deve crescer entre 8% e 10% no terceiro trimestre de 2009, em termos anualizados. Para tanto, considera que o ritmo de expansão trimestral se manterá ao longo de um ano inteiro. “Um ritmo chinês.”
Intrigado, José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, fez exercício para calcular o PIB brasileira da mesma maneira que a China faz. O que aconteceu? Ele detectou que, no terceiro trimestre do ano, o Brasil teria crescido 0,3% na comparação com o mesmo trimestre de 2008. E o PIB chinês, 8,9%.
Em resumo, estamos loooonge do padrão asiático. Mantega fotografou o atual momento e o projetou para um ano.
Aí, é só felicidade."

PS meu:  Cada povo tem o governo que merece, ainda que muitos (eu incluído) não tenham compactuado com essa bandalha. Meus pais me ensinaram a não mentir, mas não me ensinaram a desconfiar dos nossos governantes, infelizmente.Vai daí que o falso passa por verdadeiro, malgrado o logro verbal, inacessível ao povo honesto e trabalhador, que vive na terra e não nas nuvens.

sábado, 14 de novembro de 2009

Toque de recolher

,Dora Kramer, sempre ela!


¨Na sua volta à cena, 40 horas depois do apagão da noite de terça-feira, que atingiu 18 Estados e afetou 60 milhões de pessoas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que "não se pode politizar uma coisa tão séria para o País". De fato, não se pode. Mas é exatamente isso que o governo vem fazendo. A politização do blecaute, para dissociar o presidente Lula e a sua candidata do acidente que ela considerou "muito desagradável", ficou evidente desde logo no desaparecimento da própria Dilma, para quem o Planalto vinha criando sem cessar oportunidades de exposição, tratando-a como uma espécie de "ministra de tudo" - até do Meio Ambiente, como convém aos novos tempos verdes. A politização ficou evidente também na decisão de culpar uma tempestade pelo ocorrido. E, por fim, na pressa com que o titular de Minas e Energia, Edison Lobão, secundado pela antecessora que o telecomanda, decretou que o caso estava encerrado.


O governo segue religiosamente a lei do teflon: nada que a opinião pública possa perceber como problemático ou perturbador deve aderir à imagem da irrepreensível gestora de um governo aprovado pela maioria esmagadora da população. Para o seu patrono, tudo o mais, incluindo o modo de reagir a imprevistos adversos, tem de se subordinar a esse mandamento. Eis por que Lula e Dilma esperaram por uma ocasião favorável - o lançamento de um plano de ação contra o desmatamento da Amazônia e a revelação de que o abate caiu este ano mais do que em qualquer outro período desde que vem sendo medido - para se manifestar em coro sobre o apagão e explicá-lo pelo imponderável. "A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva", resignou-se o presidente, depois de lembrar que "Freud dizia" que a humanidade não pode controlar tudo, as intempéries, por exemplo. "Se tem uma coisa que nós humanos não controlamos são as chuvas, raios e ventos", repetiu a ministra.

Pouco importa que subsistam dúvidas consistentes sobre a versão oficial para a causa do blecaute - raios, ventos e chuvas, na região de Itaberá, no Estado de São Paulo, teriam danificado simultaneamente três linhas separadas de transmissão da Hidrelétrica de Itaipu, desencadeando uma reação em cadeia que deixou às escuras boa parte do País. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o principal centro brasileiro de estudos atmosféricos, confirma que, na hora do apagão, uma tempestade com raios se abatia sobre a região de Itaberá. Ressalva, no entanto, que as descargas mais próximas das instalações elétricas caíram a pelo menos 10 quilômetros de distância. Não estivesse o Planalto ansioso para varrer o problema para debaixo do tapete - e prosseguir com a campanha eleitoral antecipada - promoveria a "investigação cabal" sobre o episódio, defendida pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Ainda na remota hipótese de que tudo tenha começado com uma tempestade - e não com uma falha humana ou de equipamento -, o que deixa perplexos os especialistas do setor foi a disseminação do problema. Eles se perguntam por que os efeitos da pane não ficaram confinados à área de origem. "É preciso saber o que aconteceu com os sistemas inteligentes que teriam de isolar um defeito e impedir que a falha de fornecimento se alastrasse", observa o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. A questão, em outras palavras, é a da vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro. Mas isso aparentemente não inquieta a ministra Dilma Rousseff. Para ela, a segurança da operação é de 95%. Não está claro se o número é força de expressão ou um índice preciso. De todo modo, argumentou, chegar a 100% de segurança obrigaria a população a "pagar uma conta de luz bastante mais gorda". Por isso, "não estamos livres de blecautes".

Obviamente, nenhum país ou região do mundo está. A frase, portanto, escamoteia o essencial: saber até que ponto - a ser verdadeira a teoria do raio adotada pelo governo - o vasto sistema elétrico nacional está efetivamente "sujeito a chuvas e trovoadas", como notou com propriedade a colunista Dora Kramer no Estado de ontem. Mas no vale-tudo eleitoral em que estão imersos, nem Lula nem a sua escolhida estão interessados em tratar publicamente de um tema delicado como o desempenho do governo em gerir o setor energético. "Ao presidente Lula não apetece resolver problemas, mas se livrar deles de qualquer maneira." ¨
 
(...)
 
¨A hidrelétrica de Itaipu está sob investigação da Agência Nacional de Energia Elétrica e do Operador Nacional do Sistema Elétrico, o Ministério Público Federal abriu processo administrativo para investigar as causas do blecaute, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais não avaliza a versão oficial, o Congresso criou uma comissão especial para acompanhar o caso, parlamentares governistas consideram os esclarecimentos insuficientes, peritos levantam várias outras possibilidades e o próprio ministro do Planejamento acha que ainda falta uma "explicação cabal".

Quer dizer, as dúvidas estão no ar e em volume considerável.

Com que autoridade, então, os ministros Dilma Rousseff e Edison Lobão vêm a público dois dias depois do monumental blecaute para comunicar que "o assunto está encerrado"? Muito provavelmente com a autoridade conferida pela ordem do presidente da República para que assim procedessem, enquanto ele continuava em cena pedindo a suspensão da polêmica até o fim das investigações.

Ocorre que, se Dilma e Lobão devem obediência funcional ao presidente, o mesmo não ocorre com o restante do País. Se o governo acha que pode avocar o poder de decidir quando é hora de parar de dar satisfações de seus atos, comete um engano e um incorre em ato de lesa-democracia.

Por infração ao preceito maior do regime, segundo o qual o poder é exercido em nome do povo, cujos representantes têm a obrigação de lhe prestar contas.¨
 
PS meu: Sem cortes ficaria ótimo, mas não posso atirar, ao leitor, a íntegra da artigo que só uma Dora Kramer, com o seu poder de síntese, coloca em um terço de página. Uma radiografia da república do ¨quaserrei¨, em/com todas as letras de(s)compostas. O essencial foi dito, o resto, muito sério, entra em detalhes quase escabrosos, quase boquipasmos onde a lei de Malboro impera, abunda e prejudica (a nação).

A teoria do raio e a lei do teflon

Deu no Estadão de hoje:


¨Na sua volta à cena, 40 horas depois do apagão da noite de terça-feira, que atingiu 18 Estados e afetou 60 milhões de pessoas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que "não se pode politizar uma coisa tão séria para o País". De fato, não se pode. Mas é exatamente isso que o governo vem fazendo. A politização do blecaute, para dissociar o presidente Lula e a sua candidata do acidente que ela considerou "muito desagradável", ficou evidente desde logo no desaparecimento da própria Dilma, para quem o Planalto vinha criando sem cessar oportunidades de exposição, tratando-a como uma espécie de "ministra de tudo" - até do Meio Ambiente, como convém aos novos tempos verdes. A politização ficou evidente também na decisão de culpar uma tempestade pelo ocorrido. E, por fim, na pressa com que o titular de Minas e Energia, Edison Lobão, secundado pela antecessora que o telecomanda, decretou que o caso estava encerrado.




O governo segue religiosamente a lei do teflon: nada que a opinião pública possa perceber como problemático ou perturbador deve aderir à imagem da irrepreensível gestora de um governo aprovado pela maioria esmagadora da população. Para o seu patrono, tudo o mais, incluindo o modo de reagir a imprevistos adversos, tem de se subordinar a esse mandamento. Eis por que Lula e Dilma esperaram por uma ocasião favorável - o lançamento de um plano de ação contra o desmatamento da Amazônia e a revelação de que o abate caiu este ano mais do que em qualquer outro período desde que vem sendo medido - para se manifestar em coro sobre o apagão e explicá-lo pelo imponderável. "A gente não sabe o tamanho do vento, o tamanho da chuva", resignou-se o presidente, depois de lembrar que "Freud dizia" que a humanidade não pode controlar tudo, as intempéries, por exemplo. "Se tem uma coisa que nós humanos não controlamos são as chuvas, raios e ventos", repetiu a ministra.



Pouco importa que subsistam dúvidas consistentes sobre a versão oficial para a causa do blecaute - raios, ventos e chuvas, na região de Itaberá, no Estado de São Paulo, teriam danificado simultaneamente três linhas separadas de transmissão da Hidrelétrica de Itaipu, desencadeando uma reação em cadeia que deixou às escuras boa parte do País. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o principal centro brasileiro de estudos atmosféricos, confirma que, na hora do apagão, uma tempestade com raios se abatia sobre a região de Itaberá. Ressalva, no entanto, que as descargas mais próximas das instalações elétricas caíram a pelo menos 10 quilômetros de distância. Não estivesse o Planalto ansioso para varrer o problema para debaixo do tapete - e prosseguir com a campanha eleitoral antecipada - promoveria a "investigação cabal" sobre o episódio, defendida pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.



Ainda na remota hipótese de que tudo tenha começado com uma tempestade - e não com uma falha humana ou de equipamento -, o que deixa perplexos os especialistas do setor foi a disseminação do problema. Eles se perguntam por que os efeitos da pane não ficaram confinados à área de origem. "É preciso saber o que aconteceu com os sistemas inteligentes que teriam de isolar um defeito e impedir que a falha de fornecimento se alastrasse", observa o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. A questão, em outras palavras, é a da vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro. Mas isso aparentemente não inquieta a ministra Dilma Rousseff. Para ela, a segurança da operação é de 95%. Não está claro se o número é força de expressão ou um índice preciso. De todo modo, argumentou, chegar a 100% de segurança obrigaria a população a "pagar uma conta de luz bastante mais gorda". Por isso, "não estamos livres de blecautes".



Obviamente, nenhum país ou região do mundo está. A frase, portanto, escamoteia o essencial: saber até que ponto - a ser verdadeira a teoria do raio adotada pelo governo - o vasto sistema elétrico nacional está efetivamente "sujeito a chuvas e trovoadas", como notou com propriedade a colunista Dora Kramer no Estado de ontem. Mas no vale-tudo eleitoral em que estão imersos, nem Lula nem a sua escolhida estão interessados em tratar publicamente de um tema delicado como o desempenho do governo em gerir o setor energético. "Ao presidente Lula não apetece resolver problemas, mas se livrar deles de qualquer maneira." ¨

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Buana! Buana!

Quando ouso colocar um editorial aqui é porque sei que há mais conteúdo do que meramente as palavras ali estampadas. Hoje é dose dupla. Não porque copio o que está escrito, é muito mais pelo que implicitamente, subliminarmente, apreendemos.

Rendo-me às palavras do Estadão de hoje.

"Duplo apagão em Brasília





Enquanto não se souber com certeza o que causou o blecaute da terça-feira à noite - e, sobretudo, por que não se impediu que o problema avançasse pela madrugada, atingisse 18 Estados, o Distrito Federal, além do Paraguai, afetando perto de 60 milhões de pessoas -, será no mínimo temerário apontar o dedo para essa ou aquela autoridade do setor elétrico nacional. Mas não é preciso esperar mais nada para deplorar o apagão de competência (do governo) e de integridade (da oposição) ao longo do day after. Ministros e outras autoridades tiveram em comum com os políticos um desempenho marcado por um monumental pouco-caso com os brasileiros ansiosos por respostas confiáveis e condutas honestas.

No lugar disso, ouviram dos governistas que tudo não passou de um "microincidente", ou de uma "marolinha". Dos oposicionistas, que foi a "pá de cal" na candidatura presidencial da ministra da Casa Civil e ex-titular de Minas e Energia, de 2003 a 2005, Dilma Rousseff. E, ainda, que o apagão de agora (na transmissão) deixou o presidente Lula em pé de igualdade com o antecessor Fernando Henrique, em cujo segundo mandato o País conheceu uma prolongada crise de geração de eletricidade. A pré-candidata, por sua vez, em contraste clamoroso com a sua habitual onipresença destinada a promovê-la junto ao eleitorado, simplesmente se apagou. Cancelou compromissos, ausentou-se de eventos aos quais decerto compareceria em outras circunstâncias e, no seu único contato com jornalistas, fugiu das perguntas, mandando "um beijo".

É provável que ela tenha se eclipsado por decisão de Lula, preocupado em dissociá-la do acontecimento que interrompeu a longa sequência de fatos positivos para o governo, ou assim explorados, de olhos postos na sucessão. Se o fez, foi tão pequena - e manipuladora - quanto os seus adversários. Afinal, em vez de se ocultar, a ministra devia ter esclarecido, de imediato, o que a levou a afirmar categoricamente, numa entrevista há duas semanas, ter a certeza de que "não vai ter apagão". Devia esclarecer também o que fez das recomendações recebidas em julho do Tribunal de Contas da União (TCU) para prevenir um novo apagão. É verdade que, nas duas situações, o termo empregado designasse um problema estrutural, não o risco de um evento isolado. Mas ela teria de ser a primeira a se manifestar a respeito, jogando limpo com a sociedade.

Tudo considerado, o presidente ainda foi quem menos mal se saiu no episódio. Em público, por se recusar a "chutar" as causas do apagão, guardando-se de fazer comentários "enquanto não tiver a informação concreta e objetiva". A portas fechadas, segundo se noticiou, pela descompostura que passou em membros de sua equipe. "Parem de falar besteira sobre coisas que vocês não sabem", ordenou. "Não quero meias explicações nem dados parciais." Ele tinha motivos de sobra para se indignar. Mais uma vez, Brasília reagia a uma emergência nacional batendo cabeças, às tontas, e mantendo o País no escuro sobre o que se passava. Figurões do setor elétrico passaram boa parte do dia dando explicações contraditórias, num show de descoordenação, negligência e desrespeito pela população.


Isso quando não se contradiziam a si mesmos, modalidade em que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do PMDB maranhense, levou - previsivelmente - a palma. Dele, que se enrolava a cada declaração, se pode dizer que os seus conhecimentos da área talvez nem sequer lhe permitam trocar uma lâmpada. Mas ele não caiu na Esplanada como os raios que, na versão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), recebida com ceticismo por especialistas independentes, teriam derrubado "em milissegundos" três linhas de transmissão que ligam a Hidrelétrica de Itaipu à malha nacional. Lobão está onde está por conta dos arranjos políticos de Lula com o presidente do Senado, José Sarney. Por isso tem reduzida autoridade moral para dar um "cala a boca" em quem "fala bobagem sobre o que não sabe".

Só agora, no afã de proteger a pré-candidata que Lula lhe impôs, o PT ousa criticar publicamente Lobão. "Quando Dilma era ministra, não tivemos nenhum apagão", atacou a senadora Ideli Salvatti, de Santa Catarina. Na verdade, ninguém acredita que Lobão seja mais do que o executor da política de Dilma na área da eletricidade.



N. da R. - Esta nota já estava na página quando a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, veio a público para manifestar-se sobre o blecaute"

E lê que lê, vamos de Dora Kramer:


"Chuvas e Trovoadas


A ser verdadeira a versão de que o blecaute em 18 Estados do País se deveu ao mau tempo que se abateu sobre uma cidade chamada Itaberá (SP), isso significa que o Brasil tem um sistema de energia sujeito a chuvas e trovoadas. Portanto, vai acontecer de novo. Tantas vezes quantas forem contundentes as atribulações da natureza.

Agora, se ficar provado que a história não passa de uma desculpa esfarrapada, quer dizer que o Brasil tem um governo cuja preocupação primordial é tirar o corpo fora. Fugir de suas responsabilidades administrativas para não causar prejuízos à sua atividade política.

Em qualquer uma das hipóteses, estamos mal arranjados.

A se acreditar nas explicações do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, um curto-circuito foi capaz de tirar de operação a usina de Itaipu porque a pane no ponto de origem desligou outras tantas linhas de transmissão e deixou às escuras o maior, mais desenvolvido, mais celebrado e exaltado país da América do Sul, a nova coqueluche do mundo.

Lobão, que deve seu cargo à ligação com o presidente do Senado, José Sarney, senhor daquela sesmaria (o setor elétrico) na parte do latifúndio da administração federal reservada ao PMDB, assegurou que o sistema é um espetáculo e comparou o episódio a um acidente aéreo: "As máquinas são feitas para serem perfeitas, mas o avião às vezes cai."

Sim, por falha do equipamento, inépcia na operação ou fenômenos meteorológicos tão graves quanto imprevisíveis.

Não foi o caso. Segundo o mesmo ministro, "o Brasil é o país de maior concentração dessas situações extremas de meteorologia" e muito mais ainda na área afetada. Se as ocorrências são constantes são também previsíveis e, por isso, é de se supor, cobertas pelos sistemas de segurança.

O diretor-geral de Itaipu, o petista Jorge Samek, atribuiu o apagão à "lei de Murphy", o secretário-geral do Ministério de Minas e Energia culpou o desligamento de três linhas que levam energia de Itaipu para o resto do País, o presidente da Eletrobrás explicou que o problema estava nas linhas de transmissão da usina para São Paulo e o ministro do Planejamento duvidou que a origem do dano estivesse na fúria do céu.

Vinte horas depois do ocorrido, Lobão volta à cena e bate o martelo na versão do temporal. E para dizer o que no Paraguai já se sabia desde o fim da noite de terça-feira. O serviço brasileiro da BBC pôs no ar a explicação sobre o curto-circuito e consequente efeito dominó a uma da madrugada de quarta-feira.

Por que o governo brasileiro só falou oficialmente 16 horas depois? Por que a embromação?

A demora e as contradições deixam evidente a intenção do governo de evitar qualquer discussão que ponha em cheque a capacidade gerencial da administração e abale a imagem da gerente exigente e eficiente da ministra Dilma.

Mas esse é um efeito secundário. O principal para o Planalto, mais que a blindagem de Dilma Rousseff, é a blindagem do presidente Luiz Inácio da Silva. É a figura a ser preservada a qualquer custo, pois dele é que depende o futuro dos demais companheiros.

Quando o governo que tanto exibe a candidata esconde a ministra fiadora da eficácia do sistema elétrico sem fazer segredo da estratégia, está sutilmente deixando que a política, na pessoa de Dilma, pague uma conta que é administrativa. De responsabilidade do presidente da República.

Não por acaso, circulam convenientes versões sobre as cobranças "firmes" do presidente e sua "irritação" com as informações demoradas e desencontradas sobre o blecaute.

É sempre assim, em qualquer crise. Lula aparece como o personagem irritado que reclama dos incompetentes, exige da equipe uma solução imediata. Logo aparece uma versão conveniente e, em seguida, o assunto é dado unilateralmente como encerrado.

Desta vez também se repetiu o roteiro, cabendo ao ministro Lobão a tarefa de pôr o ponto final na questão, a despeito da opinião da maioria dos técnicos, do governo inclusive, sobre os indicativos de falha de operação.

Ao presidente Lula não apetece resolver problemas, mas se livrar deles de qualquer maneira para que não haja obstáculos em seu caminho. Como quer transparecer a todos que a adversidade pertence a uma outra era, que na administrada por ele tudo é glória, ao presidente os percalços soam ameaçadores.

Atrapalham a sustentação do discurso do triunfo absoluto.

Mas, como nem tudo é desastre nem tudo é esplendor puro, convém sempre lidar com a realidade com mais equilíbrio para que os tropeços possam ser vistos como eventualidades naturais e os danos contabilizados sejam bem mais reduzidos.

Se no caso do blecaute o governo não mentiu, tergiversou. Para ganhar tempo até pensar como administrar o revés com o mínimo de prejuízo político possível, quando talvez ganhasse mais se optasse pela lógica do máximo benefício administrativo."

Dá para entender? É ler o "1808" do Laurentino Gomes, se recolher em silêncio e colocar o "bestunto" a pensar e tirar suas conclusões....

Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?

Buana, o cacete!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cegos no tiroteio

Adoro a Dora (Kramer)

"O governo mostrou-se muito mais preocupado em ressaltar as maravilhas do sistema elétrico, em escapar de uma comparação que lhe seria eleitoralmente desfavorável, em poucas palavras, em tirar do corpo fora, do que em tratar da questão de maneira mais objetiva, menos política.




A oposição, de seu lado, também se atirou apressada no carnaval. Já sonhando em atribuir à ministra Dilma Rousseff, mandachuva do setor elétrico de direito até a queda de José Dirceu da Casa Civil e, ao que consta, manda de fato até hoje.



Bom para ela o episódio não foi. Duas semanas atrás, Dilma havia garantido que a ocorrência de apagões era algo totalmente fora de cogitação. A ministra nem sequer se deu ao trabalho de acrescentar um "salvo se..." ocorrerem adversidades climáticas.



Não, a crer da palavra dela, o sistema estava imune a acidentes. Não estava. Se é que houve mesmo acidente.



Ainda assim a oposição mostrou-se infantil ao partir para acusações à deriva antes de saber realmente o que havia ocorrido. A pressa desqualifica a crítica.



Ora, perguntará o eleitor, se é tão patente assim a incompetência da operação do sistema, se o apagão foi fruto de imprevidência continuada, onde estava a oposição que não reclamava?



Ademais, em termos de repercussão na vida das pessoas, não há como igualar um episódio de quatro horas com um racionamento de meses, que alterou totalmente a rotina da população. A menos que se repitam os blecautes, nem Lula nem Dilma sofrerão o desgaste sofrido por Fernando Henrique.



Querer criar artificialmente o prejuízo denota a busca desesperada por qualquer motivo. Da mesma forma como maquiar o infortúnio demonstra obsessão pela coleta de benefícios. Tudo no modelo da autorreferência eleitoral em que a consistência dos fatos é mero detalhe."

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Caetano esclarece fala sobre Lula em entrevista ao Estado

SÃO PAULO - Em entrevista a Sonia Racy, no Caderno 2 do Estado, no último dia 2, o compositor Caetano Veloso se referiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva com expressões como "analfabeto", "cafona" e "grosseiro" ao anunciar preferência pela eventual candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência. "Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem", disse na entrevista.

A declaração provocou reações no meio político. Na última sexta-feira, o próprio Lula reagiu: "Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro do que isso". Leia a carta que o cantor enviou à redação:

"O que mais me impressiona é as pessoas reagirem diante da manchete do jornal, tal como ela foi armada para criar briga, sem sequer parecerem ter lido o trecho da entrevista de onde ela foi tirada. É um país de analfabetos? A intenção sensacionalista da edição tem êxito inconteste com os leitores. Pobres de nós.

Sonia Racy sabe que eu ressaltei essa diferença entre Lula e Marina para explicar porque eu dizia que ela é também um fenômeno tipo Obama (coisa que Racy e Nelson Motta não entenderam). Marina é Lula (a biografia) e é Obama (a cor escura e o modo elegante e correto de falar - e escrever). Li aqui que Lula disse que é burrice minha dizer isso. É. Serve para Berzoini contar alegremente votos migrando de Serra ou Aécio para Marina, não de Dilma.

Ainda mais que toca nesse ponto óbvio (que para mim tem todas as vantagens e desvantagens, não sendo um aspecto meramente negativo) da fala pouco instruída e frequentemente grosseira e cafona de Lula. Todos sabem disso. Ele próprio se vangloria. Os linguistas aplaudem. E todos têm razão: ele é forte inclusive por isso. Fala "bem": atinge a maioria dos ouvintes.

Sua fala tem competência - e ele, como eu próprio disse na entrevista, é um governante importante. Mundialmente está reconhecido como alguém que chegou lá e foi além do esperado. Quisera Obama estar na mesma situação. Querer dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente. Simbolicamente ao menos.

Não creio que ela seria um entrave às pesquisas de células-tronco e à união civil de homossexuais. Se for, eu estarei aqui para me opor a ela. Aborto, união gay, embriões são matéria do Legislativo. O executivo pode influir? Pode. Mas Marina seria uma presidente do tipo autoritário? Não creio. Criacionismo? Ela jamais cairia na confusão de ensino religioso com ensino científico. Ela é racional, atenta, dialoga com calma. Todos esses assuntos podemos debater com ela como com ninguém: ao menos estaremos certos de que ela não será hipócrita.

Se houver candidatura e campanha, teremos tempo para isso. Não penso tanto como Marina sobre a Amazônia. Penso mais como Mangabeira. Já disse. Mas forças políticas surgem assim. Marina chegar a ser candidata é notícia grande. Não posso fingir que não é. E detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula. Não estamos na União Soviética. Eu não disse nenhuma novidade. Nem considero ofensivo. É descritivo. E a motivação era esclarecer a parecença de Marina com Obama (que me interessa muito). E todos os entendidos me dizem que os banqueiros estão com medo é de Serra: adoram Lula.

Então por que a demagogia de dizer que FH era pelos de poder aquisitivo? Até os programas sociais que Lula desenvolveu nasceram no governo FH. O Fome Zero naufragou. Eles se voltaram, espertamente (e felizmente), para o Bolsa-Escola de dona Ruth. Eu ter mencionado a fala analfabeta de Lula não é bom para a campanha de Marina. Mas ainda não estamos em campanha. Eu acho."

O Crime de ser Mulher

De Eliane Cantanhêde:

(Folha de São Paulo)


Noutro dia, uma mulher de mais de 60 anos foi amordaçada, torturada e violentada por um criminoso que entrou na sua casa, em Brasília, fazendo-se passar por bombeiro eletricista.



É dramático, mas comum. Pior foi a entrevista da delegada (delegadaaa!) a uma rádio, em que ela nem sequer fez referência ao crime e ao criminoso, centrando suas suspeitas (ou seriam certezas?) sobre a própria vítima: se nunca tinha visto o homem, como entabulou conversa com ele?


Se morava sozinha, como deixou o estranho entrar? E sentenciou: "Há muita coisa estranha nessa história".



Nada disse sobre o estupro, a violência, a covardia, as escoriações, as muitas horas que a mulher havia ficado ferida, amarrada e amordaçada.



No inconsciente da delegada, a vítima era a ré. Afinal, uma mulher madura, sozinha, sabe-se lá!



É o que ocorre na Uniban, quando vândalos recalcados promovem uma rebelião, perseguem, ameaçam e humilham uma colega indefesa, porque...



Por que mesmo? Ah, sim! Era insinuante. E ela é que acaba expulsa pelo conselho universitário, até o reitor agir. A vítima virou ré. Afinal, uma mulher jovem, bonita, de saia curta...



São dois casos bastante simbólicos. No de Brasília, não foi um policial bruto e machista que inverteu as condições de vítima e réu: foi uma delegada mulher.



No da Uniban, quem embolou os personagens foi o conselho de uma entidade acadêmica, que foi criada e é regiamente paga para cuidar da educação (e da segurança) dos filhos alheios.



Se a delegada e a cúpula da escola são os primeiros e mais insensíveis algozes, para onde correr? A quem recorrer?



O "mal" e o "bem" se embaralham cruelmente, e a vítima passa a ser cada vez mais vítima -na condição de ré.



PS - Por falar nisso, no Estado de Maluf e na capital de Pitta, quem é condenada e paga a conta é Luiza Erundina. É de rir ou de chorar?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Frase(s) pinçada(s) - 7

Não sou PV mas vou de Dora Kramer, mais uma vez.


"Origem e destinos


Do que fala Caetano Veloso - que, aliás, será apontado como preconceituoso por isso - quando diz que Marina Silva não é "analfabeta" como o Lula?

Fala sobre o esforço da senadora em se aprimorar e aproveitar as oportunidades dadas pela vida. Fala da recusa da senadora em fazer da adversidade de origem um proveitoso destino.

Fala de uma mulher nascida nos seringais da Amazônia, alfabetizada aos 14 anos de idade e que tem hoje na expressão do idioma de seu País um de seus melhores atributos.

Marina não precisa da grosseria para se identificar com seu povo. Ao contrário: oferece-se a ele como prova de que o aperfeiçoamento - de palavras, pensamentos e comportamentos - vale a pena.

Marina não nivela o Brasil por baixo, mostra o valor do esforço e não celebra a indulgência."

P.S.: Nós somos e estamos carentes dessa "finesse", o povo agradeceria se nossos governantes fossem "menas", com perdão pelo assassinato verbal.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Frase(s) Pinçada(s) - 6

Do Notas e Informações d´O Estado de São Paulo de hoje:

(...)

"No interior do governo, Lula aninha uma burocracia sindical que se apropria sistematicamente do mando dos gigantescos fundos de pensão das estatais, os quais, por sua vez, têm assento nos conselhos das mais poderosas empresas brasileiras. Forma-se assim uma intrincada trama de interesses que se respaldam reciprocamente, não raro em parceria com empresários que conhecem o caminho das pedras - "nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas", diz Fernando Henrique -, fundindo-se "nos altos-fornos do Tesouro". Isso dá ao presidente um poder formidável sobre o Estado nacional que extrapola de longe as suas atribuições constitucionais. É uma espécie de volta, em trajes civis, ao regime dos generais. No trato com o Congresso, Lula faz os pactos que lhe convierem com tantos Judas quantos estiverem dispostos a servi-lo para se servirem dos despojos da administração federal, enquanto a oposição balbucia objeções que dão a medida de sua irrelevância.

"Parece mais confortável", acusa o ex-presidente, "fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes." Mais confortável porque mais seguro. São raros os políticos oposicionistas que não se deixam acoelhar pelas pesquisas de opinião que mantêm Lula nas nuvens e que o aparato de comunicação do Planalto, sob a sua batuta, não cessa de exacerbar - daí a pertinência do termo "culto à personalidade". Desde a derrota de 2006, o PSDB de Fernando Henrique praticamente desistiu de expor as responsabilidades pessoais do adversário vitorioso pela autocracia em marcha no País. Os pré-candidatos tucanos José Serra e Aécio Neves, por exemplo, medem as palavras quando falam de Lula, decerto receando que ele possa fazê-las se voltarem contra eles mesmos junto ao eleitorado que o venera. Mesmo na condenação à campanha antecipada da ministra Dilma Rousseff, a oposição parece comportar-se como se estivesse "cumprindo tabela".

Lula não precisa tomar emprestada a borduna de Hugo Chávez para ditar os modos e os caminhos da evolução da política nacional. "Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados", descreve Fernando Henrique, "eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições.""

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Hiking History: England’s Ancient Ridgeway Trail

De vez em quando eu gosto de viajar, pessoalmente ou nos textos interessantes que abordam o tema. Algumas vezes a gente topa com um artigo interessante.

Ontem, do meu semi-retiro, li e senti vontade de partilhar o texto que dá o título a esse post e que você pode ler aqui no The New York Times.

Preciso fazer esse roteiro enquanto a máquina ainda esta azeitada...

domingo, 1 de novembro de 2009

Frase(s) pinçada(s) - 5

De Renato Cruz, Caderno de Economia d'O Estado de São Paulo,de hoje, entrevistando Carlos Kirjner

"O engenheiro ,que se diz palmeirense fanático, terminou a sua
mensagem: "Finalmente,gostaria de adicionar o seguinte à minha
entrevista: Os Estados Unidos tem o Obama, o Palmeiras tem o Obina e o Corinthians tem o obeso.""

PS: Sou sãopaulino...

Sent from my iPhone 3G S